A Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO, da sigla em inglês) lançou diretrizes de prática clínica com recomendações e algoritmos para o gerenciamento de pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas metastático (mCPCNP) com oncogenes drivers. As diretrizes foram publicadas 24 de janeiro no Annals of Oncology em artigo de Hendriks et al e compreendem diagnóstico, estadiamento, avaliação de risco, tratamento e monitoramento da doença. O oncologista William N. William Jr. (foto) comenta as recomendações.
Hendriks et al. reforçam a importância do teste de biomarcadores para identificar subgrupos de pacientes com CPCNP com oncogenes drivers que podem ser direcionados terapeuticamente. Os autores descrevem que esses drivers são encontrados principalmente nos carcinomas não escamosos e são fundamentais para identificar alterações moleculares específicas e adequar o tratamento à terapia-alvo apropriada. Muitos parâmetros podem determinar quais testes são necessários, entre eles o acesso a medicamentos, bem como a discussão da metodologia do teste, incluindo o uso de biópsias líquidas.
A diretriz de conduta da ESMO destaca que o teste é obrigatório para oncogenes drivers para os quais existem medicamentos aprovados de uso rotineiro. É o caso das mutações ativadoras do gene EGFR clinicamente relevantes em CPNPC nos exons 18-21 conferem sensibilidade ou resistência variável aos inibidores de tirosina-quinase EGFR disponíveis (TKIs EGFR) ou outras drogas comuns. “A maioria das alterações que conferem sensibilidade aos TKIs de primeira a terceira geração são a substituição do exon 21 L858R e as mutações de deleção do exon 19. No mínimo, quando os recursos ou materiais são limitados, essas mutações devem ser avaliadas”, define a diretriz.
Os autores descrevem outro grupo, com inserções do exon 20, que são principalmente resistentes aos TKIs-EGFR atuais, mas sensíveis a alguns agentes emergentes, além de mutações no éxon 18, que também são sensíveis a TKIs tais como afatinibe e osimertinibe. Assim, o sequenciamento completo dos éxons 18-21 por sequenciamento de próxima geração (NGS) é altamente recomendado.
A diretriz da ESMO aponta ainda que uma parcela menor de pacientes apresenta fusões (rearranjos) envolvendo os genes ALK, ROS1, NTRK1-3 e RET, alvos com TKIs disponíveis. A imuno-histoquímica (IHQ) com ensaio adequadamente validado pode ser usada para prescrever inibidores de ALK. Casos positivos por ROS1 ou NTRK na IHC devem ser confirmados por método molecular. A diretriz também considera ainda o sequenciamento NGS baseado em RNA quando se analisa as fusões, para identificar uma gama crescente deste tipo de alteração.
“A riqueza em detalhes desta diretriz ilustra como o tratamento do câncer de pulmão evoluiu exponencialmente nos últimos anos. Os frutos destes avanços estão sendo agora colhidos, à medida que se observam ganhos de sobrevida ao câncer de pulmão a nível populacional na última década”, conclui o oncologista William N. William Jr., coordenador do comitê de tumores torácicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
A íntegra das recomendações da ESMO está disponível, em acesso aberto.
Referência: Oncogene-addicted metastatic non-small-cell lung cancer: ESMO Clinical Practice Guideline for diagnosis, treatment and follow-up - L.E. Hendriks; K. Kerr; J. Menis; T.S. Mok; U. Nestle; A. Passaro; S. Peters; D. Planchard; E.F. Smit; B.J. Solomon; G. Veronesi; M. Reck; on behalf of theESMO Guidelines Committee - Published:January 24, 2023DOI:https://doi.org/10.1016/j.annonc.2022.12.009