Análise interina apresentada na ESMO Virtual Plenary mostrou dados de cemiplimabe (Libtayo®) como a primeira imunoterapia a demonstrar ganho de sobrevida global no câncer cervical avançado na comparação com o padrão de quimioterapia, com benefícios que também se estendem à sobrevida livre de progressão e à taxa de resposta objetiva. Quem comenta é a oncologista Daniella Ramone (na foto, à direita), coautora do trabalho como investigadora principal do protocolo de pesquisa clínica realizado no Hospital de Câncer de Barretos (Hospital de Amor). O estudo contou ainda com a participação das oncologistas Andreia Melo (ao centro), do INCA, e Fernanda Damian (à esquerda), do Hospital São Lucas/PUCRS.
"Cemiplimabe foi a primeira imunoterapia a demonstrar benefício a partir de segunda linha para pacientes com câncer de colo uterino platino-resistentes, com ganho de SLP, SG e taxa de resposta objetiva, com as pacientes tendo sido incluídas independente do status do PDL-1. O racional do estudo para o uso de imunoterapia nesta população é que a infecção por HPV de alto risco recruta antígenos imunogênicos levando à expressão de PD-L1, por cujo receptor a molécula apresenta alta afinidade”, destaca Daniella.
Este ensaio de Fase 3 (EMPOWER-Cervical 1/GOG-3016/ENGOT-cx9) avaliou o uso de cemiplimabe em pacientes com câncer cervical recorrente ou metastático que haviam progredido à quimioterapia.
A análise interina apresentada na ESMO Virtual Plenary indicou que aqueles tratados com cemiplibmabe (n = 304) tiveram benefício na sobrevida global, sobrevida livre de progressão e taxa de resposta objetiva (ORR), em comparação com a quimioterapia (n = 304), com redução de 31% no risco de morte na comparação com o padrão de quimioterapia (hazard ratio HR: 0,69; IC intervalo de confiança de 95%: 0,56-0,84; p unilateral = 0,00011).
A análise interina também mostrou redução de 25% no risco de progressão da doença (HR: 0,75; IC 95%: 0,63-0,89; p unilateral = 0,00048), assim como mostrou 16% de taxa de resposta objetiva (ORR) em 50 pacientes; IC 95%: 13-21%; p unilateral = 0,00004), em comparação com 6% com quimioterapia (19 pacientes). A duração mediana da resposta foi de 16 meses com cemiplimabe (95% CI: 12 meses a ainda não avaliável) versus 7 meses com quimioterapia (95% CI: 5-8 meses), por estimativas de Kaplan-Meier.
Em relação ao perfil de segurança, nenhum novo sinal de segurança foi observado com o tratamento com cemiplimabe nesta análise. Os eventos adversos (EAs) foram reportados em 88% dos pacientes versus 91% daqueles que receberam quimioterapia. Entre os EAs mais frequentes foram reportados anemia (25% com cemiplimabe, 45% com quimioterapia), náuseas (18% com cemiplimabe, 33% com quimioterapia), fadiga (17% com cemiplimabe, 16% com quimioterapia), vômitos (16% com cemiplimabe, 23% com quimioterapia), diminuição do apetite (15% com cemiplimabe, 16% com quimioterapia) e constipação (15% com cemiplimabe; 20% com quimioterapia).
EAs severos, de grau 3 ou superior, ocorreram em 45% dos pacientes com cemiplimabe e em 53% dos pacientes com quimioterapia. Os EAs ≥ 3 foram astenia (2% cemiplimabe, 1% quimioterapia) e pirexia (menos de 1% com cemiplimabe, 0% quimioterapia). EAs imunorrelacionados foram observados em 16% dos pacientes com cemiplimabe e em menos de 1% dos pacientes com quimioterapia, sendo 6% de Grau 3 ou superior no braço cemiplimabe. Interrupções por EAs ocorreram em 8% dos pacientes com cemiplimabe e em 5% dos pacientes com quimioterapia.
Daniella ressalta que as pacientes tratadas com cemiplimabe apresentaram menor toxicidade, apesar das descontinuações por eventos adversos terem disso discretamente maior no braço da imuno (8% x 5%) do que com a quimioterapia à escolha do investigador (pemetrexede, gemcitabina, topotecano, irinotecano ou vinorelbina). “As curvas dos gráficos de sobrevida mostraram manutenção ou melhora da qualidade de vida com a administração de cemiplimabe, enquanto as pacientes submetidas à quimioterapia geralmente apresentaram deteriorização deste score”, afirma.
A oncologista acrescenta que a duração de resposta teve uma tendência a ser mais sustentável no grupo do cemiplimabe por estimativas de Kapplan –Meyer. “Na segunda análise interina, com 85% dos eventos de sobrevida global, o IDMC (Independent Data Monitoring Committee) recomendou a interrupção precoce do estudo pela eficácia, apresentada na ESMO Virtual Plenary em 12 de maio de 2021”, esclarece.
Além disso, a análise interina apresentada na ESMO Virtual Plenary 2021 mostrou que os pacientes tratados com cemiplimabe foram capazes de manter ou melhorar seu status basal de qualidade de vida, enquanto aqueles tratados com quimioterapia experimentaram deterioração clinicamente significativa (EORTC QLQ-C30).
Este estudo reforça a atual base de evidências que apoia o uso de cemiplimabe como um potencial tratamento de segunda linha para mulheres com câncer cervical avançado que progrediram à quimioterapia, com resultados que devem subsidiar submissões regulatórias em 2021.
“O fato de que mais de 40% das pacientes já haviam feito mais de uma linha de quimioterapia e cerca de metade delas (48.7%) já havia feito uso de Bevacizumabe associado, nos dá uma opção promissora para o tratamento de colo uterino a partir da segunda linha, quando cemiplimabe for aprovado pelas agências regulatórias. O melhor controle dos eventos adversos clínicos e hematológicos em relação à quimioterapia, reforça que além dos benefícios de resposta, poderemos oferecer um tratamento com melhor qualidade de vida para pacientes com possiblidades de tratamento restritas e maior propensão à complicações”, conclui a especialista.
Referência: EMPOWER-Cervical 1/GOG-3016/ENGOT-cx9: Interim analysis of phase III trial of cemiplimab vs investigator’s choice (IC) chemotherapy (chemo) in recurrent/metastatic (R/M) cervical carcinoma - Krishnansu S. Tewari, University of California Irvine, Orange, CA, USA