Estudo brasileiro publicado na Cancer Epidemiology analisou a proporção de casos de câncer e mortes atribuíveis a fatores de risco de estilo de vida no Brasil. Os resultados mostram que 34% de todas as mortes por câncer poderiam ser evitadas, assim como 27% de todos os casos de câncer no Brasil em 2012. “Esses resultados são importantes na medida em que recursos direcionados ao controle do câncer são finitos, e prioridades precisam ser estabelecidas”, observa Leandro Fórnias Machado de Rezende (foto), pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e um dos autores do trabalho que tem José Eluf Neto, diretor da Fundação Oncocentro de São Paulo, como autor sênior.
Neste estudo, os pesquisadores relacionaram fatores de risco de estilo de vida por sexo e grupos etários, com base em recentes inquéritos de saúde. Como fatores de risco de estilo de vida foram considerados tabagismo, consumo de álcool, sobrepeso e obesidade, dieta pouco saudável e falta de atividade física. A partir desses dados, o estudo estimou a proporção de casos e mortes por câncer que poderiam ser potencialmente evitados mediante a redução desses fatores de risco.
Os resultados impressionam e ajudam a dimensionar a importância de estratégias de prevenção e controle do câncer. “Descobrimos que 26,5% (114.497 casos) de todos os casos de câncer e 33,6% (63.371 mortes) de todas as mortes por câncer poderiam ser potencialmente evitados eliminando fatores de risco associados ao estilo de vida”, apontam os autores. O tabagismo foi responsável pela maioria dos casos de câncer evitáveis e mortes, seguido por alto índice de massa corporal e consumo de álcool. “Os casos e mortes por câncer de laringe, pulmão, orofaringe, esôfago e colorretal poderiam ser reduzidos pela metade, eliminando esses fatores de risco do estilo de vida”, alertam.
Leandro observa que atualmente, as políticas públicas e a mídia brasileiras estão eminentemente voltadas à realização e promoção de exames para detecção precoce do câncer, como é o caso da mamografia, para o câncer de mama, e o PSA, para o câncer de próstata nos homens. “É importante mencionar que não há consenso na literatura de que esses exames de detecção precoce reduzam mortalidade por câncer, ou seja, apresentam efeito limitado/questionável. Por outro lado, nossos achados sugerem que a promoção de modos de vida saudável, principalmente a eliminação do tabagismo e o controle do peso corporal, poderiam reduzir um número importante de casos e mortes da doença. A prevenção primária, sem dúvida alguma, é uma das abordagens mais interessantes e realistas para o controle do câncer no Brasil”, conclui.
Referência: Rezende, L. F. M. de, Lee, D. H., Louzada, M. L. da C., Song, M., Giovannucci, E., & Eluf-Neto, J. (2019). Proportion of cancer cases and deaths attributable to lifestyle risk factors in Brazil. Cancer Epidemiology, 59, 148–157. doi:10.1016/j.canep.2019.01.021