Na Ásia, a quimioterapia adjuvante após gastrectomia D2 é padrão de tratamento no câncer gástrico localmente avançado ressecável (LAGC). Agora, pesquisadores do estudo de fase III PRODIGY reportam no Journal of Clinical Oncology resultados mostrando benefício de docetaxel neoadjuvante, oxaliplatina e S-1 (DOS) seguido de cirurgia e S-1 adjuvante nessa população de pacientes. “Este estudo reforça o papel de intensificar o tratamento no cenário de doença localizada”, avalia Tiago Biachi (foto), oncologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
“Outro estudo asiático, o JACCRO GC-07, já havia demonstrado benefício da adição de docetaxel ao S1 adjuvante naqueles pacientes com linfonodo positivo”, acrescenta.
Foram incluídos pacientes com adenocarcinoma gástrico ou de junção gastroesofágica histologicamente confirmado (estadiamento TNM clínico: T2-3N+ ou T4Nany), entre 20 e 75 anos e bom status de desempenho (ECOG 0-1). Os pacientes elegíveis foram randomizados para cirurgia D2 seguida de S-1 adjuvante (40-60 mg por via oral duas vezes ao dia, dias 1-28 q6w por oito ciclos; grupo SC) ou DOS neoadjuvante (docetaxel 50 mg / m2, oxaliplatina 100 mg / m2 por via intravenosa dia 1, S-1 40 mg / m2 por via oral duas vezes ao dia, dias 1-14 q3w por três ciclos) antes da cirurgia D2, seguido por S-1 adjuvante (grupo CSC). O principal endpoint foi sobrevida livre de progressão (SLP) com CSC versus o padrão atual (SC). Duas análises de sensibilidade foram realizadas: análise de intenção de tratar e SLP de referência.
Resultados
Entre 18 de janeiro de 2012 e 2 de janeiro de 2017, 266 pacientes foram randomizados para CSC e 264 para SC em 18 centros coreanos; 238 e 246 pacientes, respectivamente, foram tratados (conjunto completo). No corte de dados (21 de janeiro de 2019), 176 pacientes estavam em acompanhamento, com seguimento mediano de 38,6 meses (intervalo interquartil = 23,5–62,1 meses).
A análise mostra que CSC melhorou a SLP comparado ao tratamento padrão (HR= 0,70; IC de 95%, 0,52 a 0,95; log-rank estratificado P = 0,023). Os autores destacam que as análises de sensibilidade também confirmaram esses achados.
Em relação ao perfil de segurança, os tratamentos foram bem tolerados. Dois eventos adversos de grau 5 (neutropenia febril e dispneia) ocorreram durante o regime neoadjuvante.
“PRODIGY mostrou que a quimioterapia DOS neoadjuvante como parte da quimioterapia perioperatória é eficaz e tolerável em pacientes coreanos com LAGC”, avaliam os autores.
Este estudo estabelece a quimioterapia perioperatória como uma nova opção padrão de tratamento para pacientes com LAGC na Ásia, semelhante à abordagem terapêutica comumente usada nos países ocidentais.
Para Biachi, o estudo PRODIGY demonstra agora que o benefício de intensificar o tratamento também é válido no cenário neoadjuvante, momento no qual é mais fácil de entregar o tratamento ao doente. “Análises de biomarcadores, como instabilidade de microssatélites deve ajudar no futuro próximo a selecionarmos melhor a população que merece intensificar ou não a quimioterapia perioperatória”. conclui.
Informações do ensaio clínico na ClinicalTrials.gov: NCT01515748
Referência: PRODIGY: A Phase III Study of Neoadjuvant Docetaxel, Oxaliplatin, and S-1 Plus Surgery and Adjuvant S-1 Versus Surgery and Adjuvant S-1 for Resectable Advanced Gastric Cancer - DOI: 10.1200/JCO.20.02914 Journal of Clinical Oncology - Published online June 16, 2021