Pesquisadores do Programa de Oncovirologia do Instituto Nacional de Câncer (INCA) investigaram a prevalência das novas variantes de SARS-CoV-2 em casos de infecções e reinfecções em pacientes e profissionais de saúde do Instituto, inclusive pós-vacinação. Marcelo Soares (foto), chefe do Programa de Oncovirologia da instituição, é o autor sênior do trabalho publicado no periódico Infection, Genetics and Evolution.
Mais de um ano após o início da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, a disseminação contínua do vírus gerou uma série de variantes com maior transmissibilidade e infectividade, chamadas de variantes de preocupação (VOC).
Neste estudo, os pesquisadores utilizaram uma abordagem de sequenciamento baseada em Sanger visando o gene S viral para identificar variantes de preocupação em 72 infecções recentes. “Nosso trabalho simplifica o protocolo de identificação de variantes baseado na metodologia de Sanger, que envolve a produção de muitas cópias de uma região alvo de DNA”, esclarecem os autores.
A prevalência geral de VOC foi de 97%. Na maioria, foram encontradas as cepas de Manaus (gama ou P.1) e do Rio de Janeiro (zeta ou P.2), além de pessoas infectadas pela variante do Reino Unido (alfa ou B.1.1.7).
Entre os indivíduos analisados, seis foram vacinados com a vacina ChAdOx1-S/nCoV-19, da Astrazeneca (n = 4; um paciente com duas doses e três com uma dose) ou a vacina CoronaVac (n = 2; ambos com 2 doses), enquanto cinco pacientes representaram casos de reinfecção, dois deles também vacinados (cada um com um tipo de vacina).
Todos os indivíduos vacinados e reinfectados eram portadores de variantes de preocupação, independentemente do tipo de vacina administrada, número de doses administradas, níveis de IgG ou infecção prévia durante a primeira onda da pandemia no Brasil. “É importante ressaltar que todos os seis vacinados apresentaram apenas sintomas leves. As vacinas continuam sendo a opção mais relevante para minimizar os efeitos da pandemia, e é fundamental agilizar a vacinação em massa para possibilitar a redução da transmissibilidade e, em caso de infecção, para amenizar os sintomas”, destaca Soares.
O trabalho permite que as mudanças na sequência genética do vírus sejam acompanhadas, o que é primordial para o rastreamento das mutações, o prosseguimento da evolução da pandemia e a discussão das possibilidades de contenção da infecção. “Só dessa maneira conseguiremos acompanhar o comportamento do vírus e criar novas estratégias para lidar com ele, podendo nos antecipar a situações agravantes”, acrescenta Soares.
Um desdobramento desse trabalho, a médio e longo prazos, vai investigar como se comportam as infecções por novas variantes em pacientes com câncer vacinados. “Dados recentes indicam que novas variantes do vírus tendem a surgir em pacientes imunossuprimidos, o caso de muitos pacientes com câncer, e a vigilância genômica do SARS-CoV-2 nesta população particular tem se tornado cada vez mais relevante”, observa o pesquisador.
O artigo teve a participação das pesquisadoras do Programa de Oncovirologia do INCA Livia Ramos Goes e Juliana Domett Siqueira, e contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), da Fundação Swiss-Bridge (Suíça) e dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA.
Referência: Livia R. Goes, Juliana D. Siqueira, Marianne M. Garrido, Brunna M. Alves, Ana Cristina P.M. Pereira, Claudia Cicala, James Arthos, João P.B. Viola, Marcelo A. Soares, New infections by SARS-CoV-2 variants of concern after natural infections and post-vaccination in Rio de Janeiro, Brazil - Infection, Genetics and Evolution, Volume 94, 2021, 104998, ISSN 1567-1348, https://doi.org/10.1016/j.meegid.2021.104998.