Estudo de base populacional relatado no Lancet Healthy Longevity comparou o risco de fratura óssea e fraturas osteoporóticas graves em sobreviventes dos 20 tipos de câncer mais comuns. Os resultados mostram que o risco de qualquer fratura óssea aumentou em 15 dos 20 tipos de câncer avaliados, enquanto o risco de grandes fraturas osteoporóticas aumentou em 17 dos 20 tipos de câncer, achados que podem contribuir para informar estratégias de prevenção e redução de danos.
Diante de uma população crescente de sobreviventes de câncer, há preocupações também crescentes em relação aos efeitos de longo prazo relacionados ao histórico da doença e muitas vezes relacionados ao próprio tratamento do câncer. As fraturas estão associadas a uma elevada carga de morbidade e mortalidade, redução da qualidade de vida e custos consideráveis de cuidados de saúde.
Uma história de mieloma múltiplo, câncer de próstata e câncer de mama tem sido associada a problemas de saúde óssea, mas as associações numa gama mais ampla de tumores não são claras.
Neste estudo de coorte pareado de base populacional, os pesquisadores utilizaram registros eletrônicos de saúde do UK Clinical Practice Research Datalink vinculados a dados hospitalares. Foram incluídos adultos (≥18 anos) elegíveis e o estudo compreendeu o período de 2 de janeiro de 1998 a 31 de janeiro de 2020. O grupo de sobreviventes de câncer incluiu sobreviventes dos 20 tipos de câncer mais comuns. Cada indivíduo com câncer foi pareado (idade, sexo e clínica geral) com até cinco controles (1:5) livres de câncer. Os endpoints primários foram qualquer fratura óssea e qualquer fratura osteoporótica importante (fraturas pélvicas, de quadril, de punho, de coluna ou do úmero proximal) ocorridas mais de 1 ano após o diagnóstico de câncer. A análise utilizou modelos de regressão de Cox ajustados para fatores de risco compartilhados, para estimar associações entre sobrevivência ao câncer e fraturas ósseas.
A análise revelou um total de 578 160 adultos com câncer diagnosticado em 1998–2020, pareados com 3 226 404 indivíduos livres de câncer. As taxas brutas de incidência de fraturas em sobreviventes de câncer variaram entre 8,39 casos (IC 95% 7,45–9,46) por 1.000 pessoas-ano para câncer de tireoide a 21,62 casos (20,18–23,18) por 1.000 pessoas-ano para mieloma múltiplo.
Em comparação com indivíduos livres de câncer, o risco de qualquer fratura óssea aumentou em 15 dos 20 tipos de câncer avaliados, enquanto o risco de grandes fraturas osteoporóticas aumentou em 17 dos 20 tipos de câncer. As taxas de risco ajustadas (HR) foram maiores para mieloma múltiplo (1,94, IC 95% 1,77–2,13) e câncer de próstata (1,43, 1,39–1,47); HRs na faixa de 1,20–1,50 foram observados para câncer de estômago, fígado, pâncreas, pulmão, mama, rim e SNC; associações menores (HR <1,20) foram observadas para melanoma maligno, linfoma não-Hodgkin, leucemia e câncer de esôfago, colorretal e cervical. Os autores descrevem que riscos aumentados de fratura osteoporótica grave foram observados de forma mais substancial no mieloma múltiplo (2,25, 1,96–2,58) e SNC (2,12, 1,56–2,87), fígado (1,62, 1· 01–2·61), próstata (1·60, 1·53–1·67) e câncer de pulmão (1·60, 1·44–1·77). Os tamanhos dos efeitos tenderam a diminuir ao longo do tempo desde o diagnóstico, mas permaneceram elevados por mais de 5 anos em vários tipos de câncer, como mieloma múltiplo e câncer de estômago, pulmão, mama, próstata e SNC.
“Os sobreviventes da maioria dos tipos de câncer apresentaram um risco aumentado de fratura óssea durante vários anos após o câncer, com variação por tipo de câncer”, destacam os autores, acrescentando que esses achados podem ajudar a informar estratégias de mitigação e prevenção.
A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto. Artigo complementar que analisa os achados de Eva Buzasi e colegas lembra que a associação entre problemas de saúde óssea e casos de câncer de próstata, mama ou do sistema hematopoiético é bem reconhecida. No entanto, observa que, surpreendentemente, este estudo revelou que o risco de fraturas também aumentou em casos de câncer que não são frequentemente associados a fraturas osteoporóticas, como tumores do SNC, gastrointestinais, do colo do útero e dos rins, com razões de risco (HR) variando entre 1,05 (IC 95% 1,01–1 ·09) em sobreviventes de câncer colorretal a 1,94 (1,77–2,13) em sobreviventes de mieloma múltiplo.
Referência: Published:February 06, 2024DOI:https://doi.org/10.1016/S2666-7568(23)00285-4