Onconews - Estudo de mundo real compara modalidades de tratamento no LCM

luis alberto lageEstudo publicado na Cancers descreveu resultados terapêuticos e características clínico-laboratoriais da maior coorte latino-americana de pacientes com linfoma de células do manto (LCM) tratados em ambiente real. O trabalho tem como primeiro autor o pesquisador Luís Alberto Covas Lage (foto), do Departamento de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

O linfoma de células do manto (LCM) é uma doença maligna rara, com comportamento heterogêneo, e o papel de regimes de indução mais intensivos, como aqueles baseados em altas doses de citarabina (HDAC), permanece controverso no manejo de pacientes elegíveis para transplante autólogo (ASCT). 

Nesta análise, foram considerados 165 pacientes brasileiros com LCM tratados no maior centro oncológico da América Latina, de 2010 a 2022. O objetivo foi determinar preditores de sobrevida e comparar respostas entre diferentes modalidades terapêuticas primárias, com foco na avaliação de regimes de imunoquimioterapia baseados em altas doses de citarabina (HDAC) em pacientes elegíveis para ASCT.

“Após um longo acompanhamento, nossos resultados demonstraram que os pacientes tratados com regimes baseados em (R)-HDAC tiveram taxa de resposta global (ORR) maior (85,9% vs. 65,7%, p = 0,007) em comparação com aqueles tratados com (R)-CHOP, bem como menores taxas de recidivas precoces (61,9% vs. 80,4%, p = 0,043) e menor mortalidade (43,9% vs. 68,6%, p = 0,004). No entanto, Lage e colegas destacam que regimes de indução empregando (R)-HDAC não foram associados a um benefício real de sobrevida global em pacientes com LCM submetidos a ASCT (SG de 2 anos: 88,7% para (R)-HDAC mais ASCT vs. 78,8% para (R)- CHOP mais ASCT, p = 0,289).

Os resultados também revelam que ASCT inicial foi independentemente associado a melhor sobrevida global (p < 0,001), sobrevida livre de eventos (p = 0,005) e menores taxas de progressão da doença nos 24 primeiros meses após a terapia inicial (p < 0,001) no LCM.

“Em conclusão, no maior estudo latino-americano do mundo real envolvendo pacientes com LCM, conseguimos ratificar o benefício do ASCT inicial em pacientes jovens e fisicamente aptos, independentemente da intensidade do regime de imunoquimioterapia de indução utilizado. Embora os regimes de indução baseados em HDAC não tenham sido associados a melhor sobrevida em pacientes elegíveis para ASCT, foram associados a ORR mais elevada e a taxas mais baixas de recidivas precoces em toda a coorte”, destacam os autores. Esses achados podem impactar decisivamente o manejo terapêutico de pacientes com LCM em diferentes ambientes clínicos.

Referência: de Pádua Covas Lage, L.A.; Elias, M.d.V.; Reichert, C.O.; Culler, H.F.; de Freitas, F.A.; de Oliveira Costa, R.; Rocha, V.; da Siqueira, S.A.C.; Pereira, J. Up-Front ASCT Overcomes the Survival Benefit Provided by HDAC-Based Induction Regimens in Mantle Cell Lymphoma: Data from a Real-Life and Long-Term Cohort. Cancers 2023, 15, 4759. https://doi.org/10.3390/cancers15194759