Dados de mundo real sobre a eficácia e segurança do conjugado anticorpo droga sacituzumabe govitecan (SG) em pacientes com câncer de mama triplo negativo metastático fortemente pré-tratados revelam que o benefício clínico no mundo real foi consistente com os resultados do ensaio clínico ASCENT e confirmam a viabilidade de trastuzumabe deruxtecana no subgrupo HER2-low após SG, apoiando o uso de conjugados anticorpo-fármaco de forma sequencial nesta população.
O câncer de mama triplo negativo metastático (mTNBC) está associado a um prognóstico ruim, com uma taxa de sobrevida global em 5 anos variando de 4% a 20%. Sacituzumab govitecan (SG) é um conjugado anticorpo-fármaco (ADC) direcionado a TROP2, aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para pacientes com câncer de mama triplo negativo metastático ou localmente avançado irressecável que receberam pelo menos uma linha de terapia anterior, com base no benefício significativo de sobrevida global relatada no estudo ASCENT.
Neste estudo multicêntrico de mundo real, os pesquisadores buscaram expandir os dados de segurança de sacituzumabe deruxtecan em uma população diversificada de pacientes e comparar os principais desfechos do ensaio clínico randomizado com os dados de mundo real. Foram inscritos pacientes com câncer de mama triplo negativo metastático tratados com sacituzumabe govitecan (SG) de janeiro de 2021 a maio de 2023. Modelos de regressão de Cox univariados e multivariados foram usados para análise de sobrevida.
A base de análise considerou 115 pacientes. A idade média no início de SG foi de 60 anos (variação de 31 a 85). Todos os pacientes eram do sexo feminino, majoritariamente brancos (63,5%), com média de duas terapias anteriores no cenário metastático. Sessenta e um (56,0%) pacientes apresentavam doença refratária primária. A intensidade da dose relativa mediana foi de 92% (variação de 33% a 100%).
A taxa de resposta objetiva (ORR) foi de 27,8%. A sobrevida global mediana foi de 9,6 meses (IC de 95%, 7,8 a 12,9) e a sobrevida livre de progressão mediana (SLP) foi de 4,8 meses (IC de 95%, 3,6 a 5,9). Em pacientes com câncer de mama triplo negativo metastático HER2 low que receberam trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) após sacituzumabe govitecan, a ORR para T-DXd foi de 34,8% e a SLP mediana foi de 7 meses (IC de 95%, 4,6 a 10,1).
Eventos adversos (EAs) de grau 3 ou superior foram observados em 50,9% dos pacientes, incluindo neutropenia (35,7%), anemia (27,0%), vômitos (16,5%), fadiga (8,7%) e diarreia (7,0%). Reduções de dose e descontinuação do tratamento devido a EAs foram necessárias em 51,3% e 13,2%, respectivamente.
“Em uma coorte do mundo real de pacientes com câncer de mama triplo negativo metastático fortemente pré-tratados, sacituzumab deruxtecan mostrou sua atividade clínica. Em um subgrupo com doença HER2-low, T-DXd continua a demonstrar atividade clínica promissora após SG, apoiando o uso de conjugados anticorpo-fármaco de forma sequencial nesta população”, concluem os autores.
Em comparação com o estudo ASCENT, os pacientes dessa coorte de mundo real eram um pouco mais velhos, com idade média de 60 anos no início do tratamento, sendo 34% acima de 65 anos, enquanto os participantes do estudo ASCENT tinham idade média de 54 anos, com 20% da população do estudo com 65 anos ou mais.
A análise de mundo real descreve, ainda, que a população do estudo era mais diversa, com 63,5% de pacientes brancos e 27% de pacientes negros em comparação com o estudo ASCENT (pacientes brancos: 80%, pacientes negros: 12%).
“Os resultados deste estudo indicam que a maioria dos pacientes pode ser mantida em uma dose de alta intensidade de sacituzumabe deruxtecan”, destacam os autores, esclarecendo que vários pacientes tiveram profilaxia primária de fator estimulador de colônias de granulócitos (GCFS), embora nem o estudo, nem a bula do FDA recomendem profilaxia primária com GCSF para neutropenia. “Este fator pode ter contribuído para a preservação da intensidade da dose neste grupo de pacientes fortemente pré-tratados”, destacam os autores, que recomendam começar com uma dose menor em vez da dosagem do ASCENT, considerando que quase metade dos pacientes necessitou de reduções de dose.
Em termos de eficácia, a ORR foi ligeiramente menor que a do ASCENT (27% v 35%). A sobrevida global mediana foi de 9,6 meses (IC de 95%, 7,8 a 12,9) em comparação com a sobrevida global mediana do ASCENT, de 12 meses. A taxa de sobrevida em 1 ano foi de 43% (IC de 95%, 33 a 52), com SLP mediana de 4,8 meses (IC de 95%, 3,6 a 5,9).
Vinte e seis pacientes (22,6%) com câncer de mama HER2-low receberam T-DXd após terapia com sacituzumab deruxtecan. Nesse subgrupo, a ORR foi de 34,8% e a SLP mediana foi de 7 meses (IC de 95%, 4,6 a 10,1) em um seguimento mediano de 17,5 (IC de 95%, 15,6 a 17,6) meses.
Referência:
Sabah Alaklabi et al., Real-World Clinical Outcomes With Sacituzumab Govitecan in Metastatic Triple-Negative Breast Cancer. JCO Oncol Pract 0, OP.24.00242. DOI:10.1200/OP.24.00242