Pesquisadores do INCA desenvolveram um protocolo que pode baratear os custos de produção para expandir os estudos com CAR-T cells. Os resultados estão em artigo publicado 22 de fevereiro na Human Gene Therapy, que tem como autor sênior o biomédico Martín Bonamino (foto).
As tecnologias que utilizam CAR-T cells oferecem uma nova abordagem de imunoterapia no tratamento de malignidades de células B. No entanto, o uso de vetores virais para induzir a expressão de receptores quiméricos de antígeno (CAR) está associado a altos custos de produção e de controle de qualidade, impactando o custo final das terapias com células CAR-T.
Neste estudo, o objetivo foi fornecer alternativas para modificar as células T primárias. Assim, os pesquisadores utilizaram vetores não-virais consistindo em versões modificadas por engenharia genética dos chamados transposons Sleeping Beauty (SB). Esta plataforma de modificação genética permite transferir para as células novas sequências de DNA. "Desenvolvemos um protocolo combinado utilizando um sistema não viral para transferir o gene do CAR e, para estimular e expandir as células CAR-T, uma linhagem celular EBV-transformada", explica Bonamino. "Os resultados mostraram um método acessível para induzir a expressão de CARs em linfócitos T, com a vantagem adicional de as células CAR-T geradas desta forma reconhecerem a leucemia de células B e também células transformadas pelo vírus EBV. Este último aspecto pode ser bastante vantajoso no contexto de utilização de células CAR-T após transplantes de medula óssea para o tratamento de leucemias", avalia o pesquisador sênior do INCA.
Modelos animais enxertados com linhagens de leucemia humana e tratados com as células T humanas modificadas com SB para expressarem o CAR 19BBζ mostraram maior sobrevida global quando comparados com os animais tratados com as células T que não receberam o gene do CAR. "As células CAR T geradas com este protocolo mostraram ser eficazes contra a leucemia in vitro e in vivo", concluem os autores.
"Este estudo mostra que temos capacidade instalada no Brasil para desenvolvermos novas abordagens de imunoterapia com linfócitos geneticamente modificados", explica Bonamino. "O desafio agora é concluir as últimas fases do desenvolvimento para oferecer aos pacientes as células CAR-T que estamos desenvolvendo no INCA. Temos trabalhado firme neste sentido", sinaliza.
Referência: Chicaybam, L., Abdo, L. de M., Carneiro, M., Peixoto, B. C., Viegas, M. D., Ferreira, P. de S., ... Bonamino, M. (2019). CAR T cells generated using Sleeping Beauty transposon vectors and expanded with an EBV-transformed lymphoblastoid cell line (LCL) display antitumor activity in vitro and in vivo. Human Gene Therapy. doi:10.1089/hum.2018.218