A ASCO publicou um guideline com recomendações para a detecção precoce do câncer colorretal em diferentes configurações de recursos, classificadas em básico, limitado, avançado e máximo. Liderado pelo oncologista brasileiro Gilberto Lopes (foto), o trabalho foi publicado no Journal of Global Oncology (JGO), em edição que traz ainda recomendações para o tratamento de pacientes com câncer colorretal no estágio inicial adaptadas a diferentes cenários de disponibilidade de recursos.
"O câncer colorretal é um dos tumores que mais mata no Brasil e temos métodos eficazes e custo-efetivos para o diagnóstico precoce que não estamos utilizando", alerta Lopes.
Um Painel de Especialistas multinacional e multidisciplinar foi convocado para desenvolver recomendações de diretrizes de prática clínica com base em uma revisão sistemática das diretrizes existentes, juntamente com análises de custo-efetividade. Foram identificadas e revisadas as diretrizes de oito desenvolvedores; as recomendações adaptadas formam a base de evidências. Foi estabelecido o processo de consenso formal, que resultou em concordância de ≥ 75.
A diretriz de prática clínica é dirigida às pessoas assintomáticas, na faixa etária de 50 a 75 anos, sem histórico familiar de câncer colorretal, que apresenta risco médio e vive em ambientes com alta incidência da doença, ou para pacientes adultos com sintomas suspeitos de câncer colorretal. São abordadas quatro questões principais: 1 - Quais são as estratégias ideais para a detecção precoce do câncer colorretal em nível populacional em locais de alta incidência e com recursos limitados?; 2 - Qual é a estratégia ideal para pessoas com resultados positivos no rastreamento?; 3 - Qual a estratégia ideal para pessoas com pólipos pré-malignos ou outros resultados de triagem anormais?; e 4 - Quais são os métodos ideais de diagnóstico para pacientes com sinais e sintomas de câncer colorretal precoce.
Principais recomendações
Em configurações básicas de recursos, a população deve receber o teste guaiaco de sangue oculto nas fezes altamente sensível (gFOBT), de preferência anualmente ou a cada dois anos se houver recursos disponíveis; ou receber o teste imunoquímico fecal (FIT) anualmente, se disponível (preferencial) ou a cada dois anos.
Em cenários com recursos limitados, deve ser oferecido gFOBTs altamente sensíveis anualmente ou FIT anualmente. O Painel de Especialistas recomenda ainda a sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos, ou sigmoidoscopia flexível a cada 10 anos mais FIT anual. Caso o FIT não esteja disponível, pode ser substituído pelo teste de sangue oculto nas fezes (FOBT).
Em opções de configuração avançada, os indivíduos devem receber gFOBTs altamente sensíveis ou FIT anualmente; sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos; sigmoidoscopia flexível a cada 10 anos mais FIT anual; ou colonoscopia a cada 10 anos. Já em cenários com máxima disponibilidade de recursos, as opções incluem gFOBTs altamente sensíveis ou FIT anualmente; sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos; sigmoidoscopia flexível a cada 10 anos mais FIT anual; colonoscopia a cada 10 anos; colonografia por tomografia computadorizada ou FIT DNA.
Resultados positivos
As diretrizes também oferecem recomendações para o encaminhamento de pacientes que tiverem um resultado positivo do rastreamento do câncer colorretal. No cenário básico, os médicos devem encaminhar esses pacientes para colonoscopia (primeira escolha) ou sigmoidoscopia (segunda escolha), se disponível. No entanto, como a endoscopia não está disponível na maioria dos locais com configurações básicas de recursos, os médicos devem realizar ou encaminhar pacientes para o enema de bário com duplo contraste (EBDC). Se os resultados do enema de bário forem positivos, o médico deve indicar a colonoscopia, se disponível; caso contrário, encaminhar o paciente à cirurgia. Nos cenários avançado/máximo, os pacientes com resultado positivo de um exame de câncer colorretal não colonoscópico devem ser encaminhados para uma colonoscopia.
Indivíduos com pólipos pré-malignos positivos ou outros resultados de triagem anormais - pedunculados, ampliados/máximos, abrangentes – devem ser encaminhados à endoscopia, se disponível e viável, ou à cirurgia.
Para investigação e diagnóstico de pessoas com sintomas as recomendações são exame físico com toque retal, enema de bário com duplo contraste (apenas básico e limitado); colonoscopia; sigmoidoscopia flexível com biópsia ou colonografia por tomografia computadorizada se houver contraindicações a duas endoscopias (apenas avançado).
O guideline completo está disponível em www.asco.org/resource-stratified-guidelines.
Referência: Early Detection for Colorectal Cancer: ASCO Resource-Stratified Guideline – Gilberto Lopes et al - DOI: 10.1200/JGO.18.00213 Journal of Global Oncology, no. 5 (February 1 2019) 1-22. - Published online February 25, 2019.