Um novo estudo conduzido por pesquisadores do Pittsburgh Cancer Institute e da Pittsburgh School of Medicine identificou um mecanismo bioquímico que pode explicar como os antiinflamatórios não esteroides (AINEs) estão associados à diminuição do risco de desenvolver polipose adenomatosa que pode transformar-se em câncer.
Os resultados foram publicados em novembro, na edição online na revista Proceedings, da Academia de Ciências dos Estados Unidos. Embora este efeito preventivo tenha sido demonstrado em estudos anteriores, "os mecanismos subjacentes aos efeitos antineoplásicos de AINEs ainda eram pouco claros", explicou o pesquisador senior Lin Zhang, para quem os resultados “fornecem uma base racional para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de prevenção do câncer de cólon”.
Para os investigadores de Pittsburgh, a aspirina e outros antiinflamatórios não-esteroides protegem contra o desenvolvimento de câncer colorretal através da indução de vias de apoptose celular em células-tronco intestinais que carregam um determinado gene mutado e disfuncional, o APC.
A morte celular apoptótica é desencadeada por uma cascata de eventos, entre os quais a translocação de pelo menos duas proteínas da mitocôndria para o citosol para desencadear a ativação de proteases caspases. O citocromo c é libertado a partir da mitocôndria em citosol e liga-se a outras proteínas, em última análise conduzindo à ativação da cascata de caspase. A segunda proteína mitocondrial lançada em citosol durante a apoptose é a chamada SMAC, o segundo ativador mitocondrial de caspase. No presente estudo, os investigadores usaram avaliação genética para estudar o papel da SMAC na apoptose induzida por AINEs em células de câncer de cólon.
“Nosso estudo identificou um mecanismo bioquímico que pode explicar como ocorre esse efeito preventivo", disse Lin Zhang. "Essas descobertas podem ajudar a projetar novos medicamentos para prevenir o câncer colorretal, que é a terceira principal causa de mortes relacionadas ao câncer no país", alertou o pesquisador.
A equipe de pesquisa realizou experimentos em modelos animais e examinou amostras de tumores de pacientes que tomaram AINEs e os que não receberam esse tipo de medicamento. Eles descobriram que os AINEs ativam o mecanismo de apoptose, o que desencadeia seletivamente um programa de morte em células estaminais intestinais com a mutação no gene APC, que torna a célula disfuncional. As células saudáveis não têm a mutação, por isso não são afetadas pelos antiinflamatórios. Ao instigar a auto-destruição precoce das células, os AINEs impedem a formação de pólipos pré-cancerosos e tumores.
"Queremos usar a nossa nova compreensão deste mecanismo como ponto de partida para projetar melhores medicamentos e estratégias eficazes de prevenção para aqueles com alto risco de câncer de cólon", disse Zhang. "Idealmente, poderíamos aproveitar os traços positivos e evitar possíveis efeitos colaterais que podem ocorrer com o uso crônico, como sangramento e úlceras gastrointestinais".
Referências:
BID mediates selective killing of APC-deficient cells in intestinal tumor suppression by nonsteroidal antiinflammatory drugs - Brian Leibowitz, Wei Qiu, Monica E. Buchanan, Fangdong Zou, Philip Vernon, Mary P. Moyer, Xiao-Ming Yin, Robert E. Schoen, Jian Yue Lin Zhang
http://www.pnas.org/content/111/46/16520.abstract