Onconews - Estudo mostra associação do status de HIV com câncer de mama triplo-negativo

A África do Sul tem a maior população de pessoas com HIV do mundo. Estudo que avaliou a associação entre o status do HIV e a proporção de pacientes com câncer de mama com o subtipo triplo-negativo fortalece evidências da ligação entre a função imunológica do hospedeiro e a patogênese do câncer de mama triplo-negativo. “Nosso estudo mostra que pacientes com câncer de mama com HIV crônico que estão em terapia antirretroviral têm mais probabilidade de ter câncer de mama triplo-negativo do que aquelas sem HIV. Essa associação é independente de idade, raça e variáveis ​​reprodutivas”, destacam os autores, em artigo no Lancet Global Health.

Estudos anteriores identificaram ascendência da África Ocidental, baixo status socioeconômico, idade mais jovem no primeiro parto (<25 anos) e maior paridade sem amamentação como fatores que aumentam o risco de câncer de mama triplo-negativo em comparação com outros subtipos de câncer de mama. No entanto, a maioria desses estudos considerou cenários de alta renda e não avaliou a associação do HIV com o subtipo de câncer de mama.

Nesta análise, os pesquisadores consideraram dados do estudo South African Breast Cancer and HIV Outcomes (SABCHO), um estudo de coorte prospectivo que recrutou pacientes com câncer de mama recém-diagnosticado em seis hospitais públicos na África do Sul. Foram considerados dados de pacientes que se inscreveram no SABCHO entre 1º de janeiro de 2015 e 18 de janeiro de 2022. Foram elegíveis mulheres com 18 anos ou mais com câncer de mama invasivo recém-diagnosticado e confirmado histologicamente. As participantes foram classificadas como HIV-positivos ou HIV-negativos pelo teste de HIV baseado em ELISA feito no momento da inscrição. Modelos de regressão logística multivariável foram usados para testar a associação entre o status do HIV e a proporção de câncer de mama triplo-negativos em relação aos não triplo-negativos, ao mesmo tempo em que foram ajustados os fatores de risco demográficos e reprodutivos.

Os resultados foram relatados por Jacob Dubner e colegas no Lancet Global Health e mostram que 3883 mulheres com câncer de mama foram incluídas no estudo, das quais 637 (16,4%) tinham câncer de mama triplo-negativo, 894 (23,0%) eram HIV-positivas e 186 (4,8%) tinham câncer de mama triplo-negativo e HIV. Os autores descrevem que o câncer de mama triplo-negativo foi responsável por 186 (20,8%) de 894 casos de câncer de mama entre mulheres HIV-positivas e por 451 (15,1%) de 2989 casos de câncer de mama entre mulheres HIV-negativas (p<0,0001).

No modelo de regressão logística totalmente ajustado, o status HIV-positivo foi associado a uma proporção maior de câncer de mama triplo-negativo ( [OR] 1,39, IC 95% 1,12–1,74, em comparação com mulheres HIV-negativas). Na comparação com mulheres HIV-negativas, a associação entre o status HIV-positivo e a proporção de câncer de mama triplo-negativo foi mais forte entre o subgrupo de mulheres com duração de infecção por HIV de 2 anos ou mais (1,57, 1,23–2,00) e naquelas em terapia antirretroviral (TARV; 1,47, 1,16–1,87).

“Pacientes com câncer de mama e HIV crônico que estão em terapia antirretroviral têm mais probabilidade de ter câncer de mama triplo-negativo do que pacientes com câncer de mama sem HIV. Essa associação é independente de idade, raça e fatores reprodutivos”, concluem os autores.

O câncer de mama é a malignidade mais comum diagnosticada entre mulheres na África do Sul, com uma taxa de incidência padronizada por idade de 48,7 por 100.000 mulheres em 2022. Em 2019, o câncer de mama triplo-negativo foi responsável por aproximadamente 15% dos casos de câncer de mama entre mulheres na África do Sul.

“Dada a desregulação imunológica crônica associada ao HIV e evidências que apoiam uma ligação entre a função imunológica do hospedeiro e a patogênese do câncer de mama triplo-negativo, nosso estudo analisou a associação entre o HIV e a proporção de câncer de mama triplo-negativo usando, até onde sabemos, o maior tamanho de amostra até o momento na África Subsaariana, destacam os autores, sublinhando que este é também o primeiro estudo a correlacionar os resultados com fatores reprodutivos.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.

Referência:

The association of HIV status with triple-negative breast cancer in patients with breast cancer in South Africa: a cross-sectional analysis of case-only data from a prospective cohort study. Dubner, Jacob et al. The Lancet Global Health, Volume 12, Issue 12, e1993 - e2002