Onconews - Estudo mostra importância de melhorar o acesso global à radioterapia para enfrentar o desafio do controle do câncer

Análise que considerou a incidência de 29 tipos de câncer em 183 países estimou as demandas globais de radioterapia em 2022 e 2050. Os resultados mostram que nem a capacidade instalada, nem a força de trabalho atendem às necessidades de radioterapia para enfrentar o desafio do controle do câncer. “Estratégias urgentes são necessárias para capacitar a força de trabalho global de assistência médica e facilitar o direito humano fundamental de acesso à assistência médica adequada”, alertam os autores, em artigo no Lancet Global Health.

Abordar o desafio do controle do câncer requer uma resposta abrangente, integrada e global do sistema de saúde. Neste estudo de base populacional, os pesquisadores usaram dados do Global Cancer Observatory (GLOBOCAN) 2022 e previram as demandas globais de radioterapia em 2050, assim como os requisitos da força de trabalho.

A partir dos dados de incidência de 29 tipos de câncer em 183 países, o modelo da Collaboration for Cancer Outcomes Research and Evaluation (CCORE) de 2013 foi utilizado para derivar a taxa de uso da radioterapia. A pesquisa dimensionou a proporção de pessoas com câncer que necessitam de radioterapia e podem ser acomodadas dentro da capacidade instalada existente, assumindo uma taxa de uso ideal de 50% ou 64%, tanto em 2022 quanto em 2050.

Os autores explicam que uma taxa de uso de 50% corresponde à média global e uma taxa de uso de 64% considera cenários potenciais de retratamento, conforme indicado pelo modelo CCORE. “Estabelecemos requisitos específicos para unidades de radioterapia em uma proporção de 1:450 pacientes; para médicos especialistas em radioterapia a proporção foi de 1:250 pacientes; para físicos médicos a proporção foi de 1:450 pacientes e para técnicos em radioterapia a proporção foi de 1:150 pacientes em todos os países”, esclarecem.

Os dados atuais foram obtidos de relatórios nacionais de saúde, sociedades de oncologia ou outras autoridades de 32 países e dimensionam a disponibilidade da capacidade instalada de radioterapia e da força de trabalho.

Os resultados relatados no Lancet Global Health mostram que em 2022 houve uma estimativa de 20,0 milhões de novos diagnósticos de câncer, com aproximadamente 10,0 milhões de novos pacientes precisando de radioterapia a uma taxa de uso estimada de 50% e 12,8 milhões a uma taxa de uso estimada de 64%.

Em 2050, os dados do GLOBOCAN 2022 indicaram 33,1 milhões de novos diagnósticos de câncer, com 16,5 milhões de novos pacientes precisando de radioterapia a uma taxa de uso estimada de 50% e 21,2 milhões a uma taxa de uso estimada de 64%. A análise mostra que esses resultados indicam um aumento absoluto de 8,4 milhões de indivíduos necessitando de radioterapia de 2022 a 2050 a uma taxa de uso estimada de 64%. Quando considerada a taxa de uso estimada de 50%, o aumento absoluto soma 6,5 milhões de indivíduos.

Na comparação global, as estimativas indicam que a Ásia deve ter a maior demanda por radioterapia em 2050 (11.119.478 [52,6%] de 21.161.603 pessoas com câncer), seguida pela Europa (3.564.316 [16,8%]), América do Norte (2.546.826 [12,0%]), América Latina e Caribe (1.837.608 [8,7%]), África (1.799.348 [8,5%]) e Oceania (294.026 [1,4%]).

Em 2022, as estimativas sobre a força de trabalho global de radioterapia apontam a necessidade de 51.111 médicos especializados em radioterapia, 28.395 físicos médicos e 85.184 técnicos em radioterapia, enquanto em 2050 as estimativas mostram a necessidade de 84.646 médicos com especialização em radioterapia, 47.026 físicos médicos e 141.077 técnicos em radioterapia. “Um esforço coletivo com estratégias de assistência médica inovadoras e de baixo custo de todas as partes interessadas deve ser garantido para melhorar a acessibilidade global à radioterapia e enfrentar os desafios no tratamento do câncer”, destacam os autores.

Mais de 35 milhões de novos diagnósticos de câncer estão previstos para ocorrer em todo o mundo até 2050, um aumento de 77% em relação aos 20 milhões de diagnósticos estimados em 2022. O aumento na incidência está associado ao IDH, com a maior carga de câncer em países com baixo IDH baixo (aumento de 142%) ou médio (aumento de 99%).

A íntegra do artigo está disponível no Lancet Global Health, em acesso aberto.

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Referência:

Global radiotherapy demands and corresponding radiotherapy-professional workforce requirements in 2022 and predicted to 2050: a population-based study
Zhu, Hongcheng et al.The Lancet Global Health