Os resultados do estudo de fase III que avaliou a eficácia e segurança do ABP 980, um potencial anticorpo monoclonal biossimilar do trastuzumabe (Herceptin®) para o tratamento de câncer de mama inicial HER2-positivo, demonstraram a não-inferioridade do ABP 980 em relação ao medicamento de referência. O oncologista Gilberto Lopes (foto) comenta para o Onconews.
Os dados do estudo com o ABP 980 foram anunciados pelas empresas Amgen e Allergan plc., que trabalham em colaboração no desenvolvimento de quatro anticorpos monoclonais biossimilares em oncologia.
Durante o Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), realizado em junho, o estudo randomizado de fase III HERITAGE havia demonstrado taxas de resposta comparáveis entre as mulheres com câncer de mama HER2-positivo tratadas com trastuzumabe e àquelas tratadas com o anticorpo identificado como MYL-14010 no tratamento de primeira linha.
"Os resultados desse estudo corroboram os achados do estudo da Mylan apresentados na ASCO e nos trazem mais uma opção de trastuzumabe biossimilar. Essa semana, colegas brasileiros publicaram no Journal of Global Oncology uma estimativa das vidas perdidas pelo não tratamento de pacientes no Brasil com terapia-alvo contra o HER-2.A eventual disponibilidade de outras opções menos custosas aumenta as nossas esperanças que o sistema único de saúde possa fornecer trastuzumabe a todas as pacientes com câncer de mama e expressão de HER2 que poderiam se beneficiar do tratamento", comenta o oncologista Gilberto Lopes, diretor médico e científico do Grupo Oncoclínicas e coordenador do HCor Onco.
O estudo
O estudo de Fase III (20120283) randomizado, multicêntrico, duplo-cego, avaliou a segurança e a eficácia da ABP 980 em comparação com trastuzumabe em pacientes com câncer de mama inicial HER2-positivo. Foram randomizados 725 pacientes, 364 pacientes no grupo ABP 980 e 361 pacientes no grupo trastuzumabe.
Na fase neoadjuvante, os pacientes inscritos receberam quimioterapia com epirrubicina e ciclofosfamida (CE) a cada três semanas (Q3W) durante quatro ciclos. Com a quimioterapia finalizada, as pacientes com função cardíaca adequada foram randomizadas 1:1 para receber ABP 980 ou trastuzumabe, mais paclitaxel Q3W durante quatro ciclos. Cirurgia (mama e linfonodo sentinela ou linfadenectomia axilar) foi concluída entre três a sete semanas após a última dose do medicamento na fase neoadjuvante, e o PCR foi analisado.
Na adjuvância os pacientes receberam ABP 980 ou trastuzumabe Q3W durante até um ano a partir do primeiro dia da administração do produto na fase neoadjuvante. Os pacientes que receberam ABP 980 durante a fase de neoadjuvante continuaram a recebê-lo Q3W na adjuvância. Os pacientes que receberam trastuzumabe na neoadjuvância receberam ABP 980 ou trastuzumabe Q3W na adjuvância.
A análise primária foi realizada quando o último paciente terminou a cirurgia após a terapia neoadjuvante. A equivalência clínica foi avaliada comparando o intervalo de confiança da diferença de risco e a proporção de risco de PCR no tecido da mama e linfonodos axilares, com margens de equivalência pré-especificadas. A análise final de segurança será realizada quando o último paciente tiver finalizada a avaliação do estudo na fase adjuvante.
Resultados
Os resultados do estudo demonstraram a não-inferioridade do ABP 980 em comparação com trastuzumabe, e a superioridade não pode ser descartada, com base no endpoint primário de eficácia da diferença do percentual de pacientes com uma resposta patológica completa (PCR).
No geral, os eventos adversos foram comparáveis entre ABP 980 e trastuzumabe. Na fase neoadjuvante do estudo, que incluiu quimioterapia, houve mais eventos adversos graves relatados no grupo ABP 980, sendo a maioria deles relatada pelos investigadores como provavelmente não relacionada ao produto experimental. Na fase adjuvante do estudo, que não incluiu quimioterapia, os eventos adversos graves foram comparáveis entre os grupos de tratamento. Os resultados globais também mostraram imunogenicidade comparável.
"Acreditamos que este estudo confirma que não há diferenças clinicamente significativas entre ABP 980 e trastuzumabe, e estamos ansiosos para discussões contínuas com autoridades reguladoras", disse Sean E. Harper, vice-presidente executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Amgen. "Biossimilares são aprovados com base nos dados analíticos, não clínicos e clínicos, e acreditamos que a totalidade da evidência gerada suporta o ABP 980 como altamente similar ao medicamento de referência", acrescentou.