Pacientes com câncer avançado relatam expectativas de sobrevida bem diferentes das expectativas de seus oncologistas. É o que mostra estudo publicado em julho no JAMA Oncology. O oncologista Ricardo Caponero (foto), Coordenador do Centro Avançado em Terapia de Suporte e Medicina Integrativa (CATSMI) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, comenta para o Onconews.
O estudo randomizou 236 pacientes com câncer avançado e seus 38 oncologistas, com o objetivo de aferir possíveis diferenças de opinião, um potencial marcador de inadequações na comunicação médico-paciente que pode pesar na tomada de decisões compartilhadas.
De agosto de 2012 a junho de 2014 foram inscritos 236 pacientes com média de idade de 64,5 anos, 54% do sexo feminino, e seus 38 oncologistas, todos selecionados na região de Rochester, Nova York, e Sacramento, Califórnia, EUA. A amostra avaliada foi acompanhada até outubro de 2015, quando foram comparadas as avaliações de pacientes e médicos.
Na avaliação, pacientes foram solicitados a relatar como eles acreditavam que seus oncologistas classificaram seu prognóstico de sobrevida em 2 anos.
Resultados
Em 161 avaliações (68%) houve discordâncias entre as expectativas de pacientes e oncologistas (95% CI, 62% -75%). A discordância foi mais comum entre os pacientes não-brancos em comparação com pacientes brancos (95% [IC 95%, 86% -100%] versus 65% [IC 95%, 58% -73%], respectivamente; P = 0,03). Entre 161 pacientes discordantes, 144 (89%) não sabiam que suas opiniões eram diferentes da opinião de seus oncologistas e quase todos eles (155 de 161 [96%]) foram mais otimistas do que seus oncologistas.
A conclusão dos autores é de que o estudo constatou discordâncias que apontam a necessidade de intervenções para melhorar a comunicação clínica.
“O artigo de Robert Gramling e colaboradores é muito significativo e retrata as distorções de comunicação que vivemos no nosso cotidiano. Ele mostra que em mais da metade dos casos houve discordância entre as expectativas dos pacientes e de seus médicos”, diz o oncologista Ricardo Caponero, Coordenador do Centro Avançado em Terapia de Suporte e Medicina Integrativa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Isso pode decorrer de expectativas irreais dos pacientes, ideias preconcebidas que os tornam refratários à comunicação do oncologista; mas também podem refletir a dificuldade dos oncologistas em transmitir com exatidão seus prognósticos e expectativas em relação ao tratamento, aponta Caponero. Para ele, ”essa distorção é grave na medida em que se reflete no julgamento necessário para a tomada de decisões terapêuticas, ou seja, quais tratamentos os pacientes aceitam ou não”, prossegue. “O estudo mostra também diferenças raciais, o que pode subentender diferenças culturais e dificuldades de se adaptar a mensagem para diferentes contextos. É absolutamente provável que essas diferenças também ocorram em nosso meio, como a prática mostra, embora as diferenças culturais possam produzir número distintos. Pensando na aplicabilidade das conclusões em nosso meio, podemos ter uma noção qualitativa, mas a quantificação dependeria de um estudo local”, conclui.
Referência: Determinants of Patient-Oncologist Prognostic Discordance in Advanced Cancer - Robert Gramling et al - JAMA Oncol. Published online July 14, 2016. doi:10.1001/jamaoncol.2016.1861