Não existem evidências de que medicamentos para baixar a pressão arterial aumentem o risco de câncer. A conclusão é do maior estudo sobre os resultados de câncer em participantes de ensaios clínicos randomizados que investigam medicamentos anti-hipertensivos - cerca de 260 mil pessoas em 31 ensaios. Os dados foram apresentados no Congresso da European Society of Cardiology (ESC 2020), que aconteceu entre os dias 29 de agosto e 1º de setembro, em formato virtual.
“Nossos resultados nos tranquilizam sobre a segurança dos medicamentos anti-hipertensivos em relação ao câncer, que é de suma importância dado seu comprovado benefício na proteção contra ataques cardíacos e derrames”, disse Emma Copland, epidemiologista da Universidade de Oxford, Reino Unido e primeira autora do trabalho.
Há mais de 40 anos a comunidade científica debate a possível associação entre medicamentos para pressão arterial e câncer, e as evidências de um risco aumentado ou diminuído de câncer com o uso de medicamentos anti-hipertensivos têm sido inconsistentes e conflitantes.
Nesse estudo, os pesquisadores dos 31 ensaios envolvidos na análise forneceram informações sobre quais participantes desenvolveram câncer. Cinco classes de medicamentos anti-hipertensivos foram investigadas separadamente: inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), bloqueadores do receptor da angiotensina II (BRA), beta-bloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio (CCBs) e diuréticos.
Os pesquisadores estimaram o efeito de cada classe de medicamentos sobre o risco de desenvolver qualquer tipo de câncer, de morrer de câncer e de desenvolver câncer de mama, colorretal, pulmão, próstata e pele. Eles também examinaram se havia diferenças de acordo com a idade, sexo, superfície corporal, tabagismo e uso prévio de medicamentos anti-hipertensivos antes da participação no estudo.
Em um acompanhamento médio de quatro anos, ocorreram cerca de 15 mil novos diagnósticos de câncer. Os pesquisadores não encontraram nenhuma evidência de que o uso de qualquer classe de medicamentos anti-hipertensivos aumentasse o risco de câncer. O achado foi consistente independentemente da idade, sexo, superfície corporal, tabagismo e uso prévio de medicamentos anti-hipertensivos.
Cada classe de drogas foi comparada com todos os outros grupos controle, incluindo placebo, tratamento padrão e outras classes de drogas. A taxa de risco (HR) para qualquer câncer foi de 0,99 (95% CI 0,94-1,04) com inibidores da ECA; 0,97 (95% CI 0,93-1,02) com BRAs; 0,98 (95% CI 0,89-1,08) com beta bloqueadores; 1,06 (95% CI 1,01-1,11) com CCBs; e 1,01 (95% CI 0,95-1,07) com diuréticos. Em termos estatísticos, os efeitos não foram significativamente diferentes uns dos outros, então não houve evidência de um risco aumentado de câncer com qualquer uma das classes de drogas.
Da mesma forma, não houve evidência de que algum tipo de medicamento anti-hipertensivo tivesse efeito sobre a probabilidade de desenvolver câncer de mama, colorretal, pulmão, próstata ou pele. Além disso, quando os participantes foram acompanhados ao longo de cada ensaio, não houve indicação de aumento do risco de câncer conforme a maior duração desses tratamentos.
Referência: Antihypertensive treatment and risk of cancer: an individual participant meta-analysis of 260,000 participants from 31 randomised clinical trials. - Emma Copland et al