Uma pesquisa revelou que cerca de 75% dos pacientes de câncer em tratamento reduzem os seus níveis de atividade física após o diagnóstico, apesar dos seus benefícios comprovados. Os resultados serão apresentados no próximo 2017 Cancer Survivorship Symposium, que acontece dias 27 e 28 de janeiro, em San Diego, e sugerem que são necessários novos métodos para apoiar e facilitar a atividade física em todo o cuidado contínuo do câncer.
Entre os fatores que contribuem para a diminuição da atividade física foram identificadas barreiras psicológicas, como dificuldades de motivação e disciplina, e físicas, como fadiga e dor associadas ao tratamento.
"Este estudo nos ajuda a entender melhor as razões que contribuem para a mudança dos níveis de atividade física nos pacientes com câncer. Precisamos ajudá-los a buscar oportunidades de exercício que se encaixem em seu estilo de vida e até mesmo nível prévio de atividade física. Por exemplo, pacientes que eram corredores antes de seu diagnóstico poderiam considerar fazer longas caminhadas. Trata-se de adaptar a conversa e o plano de exercícios para cada indivíduo", comentou Merry Jennifer Markham, especialista da ASCO.
Considerada um elemento importante na prevenção e redução do risco de câncer, dados emergentes também têm demonstrado o valor da atividade física na qualidade de vida dos pacientes submetidos a tratamento.
"Muitas pessoas associam o tratamento do câncer com a necessidade de descanso, mas estamos aprendendo que formas moderadas de atividade física não só podem ajudar os pacientes a se sentir melhor, mas também, em alguns casos, potencialmente melhorar seus resultados de câncer", disse Sally Romero, primeira autora do estudo e pesquisadora no Memorial Sloan Kettering Cancer Center. "Nossa pesquisa lança luz sobre as razões pelas quais os pacientes são incapazes de atingir seus objetivos de exercício e atividade física. Descobrimos que fatores psicológicos - como motivação e disciplina - estavam associados a uma diminuição da atividade física", afirmou.
Métodos e resultados
Romero e colegas realizaram um survey único entre 662 pacientes com câncer tratados em um centro médico acadêmico e 11 hospitais comunitários afiliados na Filadélfia. A média de idade foi de 59,9 (11,6) anos, sendo a maioria do sexo feminino (65%) e branca (81%). Além disso, 65% dos entrevistados relataram estar com sobrepeso ou obesos.
Os tipos de câncer mais comuns foram mama (32%), pulmão/torácico (15%) e hematológico (15%). 53% tinham doença não-metastática e 53% tinham recebido o diagnóstico há mais de 12 meses. A maioria recebeu quimioterapia (88%), radioterapia (53%) e/ou cirurgia (53%).
Entre os respondedores, 499 participantes (75%) relataram ter diminuído seus níveis de atividade física desde que receberam o diagnóstico de câncer, enquanto 16% mantiveram seus níveis de atividade pré-diagnóstico e 4% aumentaram a atividade física.
Em análises multivariadas, os níveis de atividade física diminuíram significativamente associados com a quimioterapia [Adjusted Odds Ratio (AOR) 3.54, 95% CI 2.06-6.06] e com doença metastática (AOR 1,64, IC 95%: 1,07-2,52). Entre as barreiras à atividade física mais comuns estão fadiga (78%), dor (71%), dificuldade de motivação (68%) e dificuldade de disciplina (65%).
Em análises bivariadas, a presença de sintomas (ou seja, dor, náuseas, fadiga, efeitos colaterais do tratamento ou complicações cirúrgicas), dificuldade de motivação, dificuldade de disciplina e tristeza foram significativamente associados (p <0,05) com a diminuição dos níveis de atividade física.
"Os efeitos colaterais do tratamento do câncer, como fadiga e dor, podem ser resolvidos com relativa facilidade, mas os outros motivos pelos quais os pacientes não estão se exercitando podem ser mais complicados, e precisamos nos concentrar neles também", disse Romero.
Os pesquisadores observaram que muitos centros de câncer designados pelo National Cancer Institute oferecem e estão expandindo programas de exercícios adaptados às necessidades exclusivas de pessoas com câncer e sobreviventes. “As equipes de cuidados com o câncer devem incluir especialistas em exercícios e terapeutas ocupacionais e físicos para enfrentar as barreiras psicológicas dos pacientes e criar um plano de exercícios personalizado para cada paciente”, acrescentou Romero.
Segundo os autores, mais pesquisas são necessárias para entender melhor como clínicos e pacientes podem trabalhar juntos afim de manter os níveis de atividade física durante o tratamento contínuo do câncer.
As diretrizes de prática clínica da ASCO recomendam que os pacientes mantenham um nível moderado de atividade física após o tratamento (por exemplo, 150 minutos de exercício aeróbico moderado por semana).
Referência: Abstract 162 - Factors and barriers associated with changes in physical activity after cancer diagnosis - Author(s): Sally A. D. Romero, Qing Susan Li, Jun J. Mao; Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, New York, NY - Citation: J Clin Oncol 35, 2017 (suppl 5S; abstr 162)