O EURAMOS-1 apresenta os resultados do estudo randomizado que deve mudar a gestão de cuidados em osteossarcoma de alto grau. Em artigo publicado no Lancet Oncology, o estudo mostra que a adição de uma combinação contendo ifosfamida ao tratamento padrão não trouxe benefícios para os pacientes com fraca resposta histológica à quimioterapia neoadjuvante. A especialista em oncologia ortopédica Suely Nakagawa (foto), membro da diretoria da Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica (ABOO), e a equipe do Departamento de Oncologia do Hospital Amaral Carvalho comentam para o Onconews.
Métodos
EURAMOS-1 é um estudo aberto, de fase 3, que avaliou 618 pacientes com diagnóstico recente de osteossarcoma ressecável, randomizados (1: 1) para receber tratamento adjuvante baseado no esquema MAP (n= 310), com cisplatina, doxorrubicina e metotrexato) ou o MAPIE (n=308), que considerou o mesmo esquema mais ifosfamida e etoposide.
O regime MAP consistiu de cisplatina na dose de 120 mg/m2, doxorrubicina na dose de 37,5 mg/ m2 por dia, nos dias 1 e 2 (na semana 1 e 6), e após 3 semanas de metotrexato na dose de 12 g/m2 ao longo de 4 h. O regime de MAPIE consistiu de MAP com a adição de doses elevadas de ifosfamida (14 g/m2) em 2,8 g/m2 por dia, seguido de etoposide de 100 mg/m2 por dia, durante 1 h nos dias 1-5. O desfecho primário foi sobrevida livre de eventos na população intenção de tratar.
Resultados
Entre 14 de abril de 2005 e 30 de junho de 2011, o estudo inscreveu 2260 pacientes em 325 locais, em 17 países. 618 pacientes foram distribuídos aleatoriamente; 310 para receber MAP e 308 para receber MAPIE. O seguimento médio foi de 62, 1 meses.
Um total de 307 pacientes teve sobrevida livre de eventos (153 no braço MAP vs 154 no braço MAPIE), desfecho que não diferiu entre os braços avaliados (hazard ratio [HR] 0 · [IC 95% 0 · 78-1 · 23] 98). 193 mortes foram relatadas (101 no grupo de MAP versus 92 no grupo MAPIE.
Na avaliação de segurança, a neutropenia foi o evento adverso grau 3-4 mais reportado, com 268 [89%] casos em pacientes MAP vs 268 [90%] em MAPIE, trombocitopenia (231 [78%] no MAP vs 248 [83%] em MAPIE.
O esquema MAPIE foi associado a maior toxicidade não hematológica grau 4. Foram reportados 71 [24%] casos no grupo MAPIE e 35 [12%] no grupo de MAP. Dois pacientes morreram durante o tratamento pós-operatório, um de infecção (embora a sua contagem absoluta de neutrófilos fosse normal) relacionada com o tratamento MAP (especificamente doxorrubicina e cisplatina), e um de disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, provavelmente relacionada com a MAPIE (especificamente doxorrubicina). Uma suspeita de reação adversa grave inesperada foi relatada no grupo MAP: infarto da medula óssea devido ao metotrexato.
Em conclusão, os resultados do EURAMOS-1 não suportam a adição de ifosfamida e etoposide à quimioterapia pós-operatória em pacientes com osteossarcoma de alto grau, porque a sua administração foi associada com aumento da toxicidade sem melhorar a sobrevida livre de eventos. Para os autores, esses resultados definem o padrão de cuidados para essa população.
“O estudo histológico da peça cirúrgica do osteossarcoma, após sua ressecção ampla, permite avaliar a sua resposta ao tratamento quimioterápico neoadjuvante e é um dos fatores prognósticos utilizados na prática clínica”, explica Suely Nakagawa. “Embora alguns estudos não controlados tenham sugerido a mudança da quimioterapia com base na resposta histológica, a eficiência desta estratégia de tratamento não foi avaliada em estudos randomizados. O EURAMOS-1 foi um estudo aberto, de fase 3, randomizado, com a colaboração de diversas instituições, que mostrou que o tratamento com MAPIE resultou em uma sobreviva livre de evento semelhante à do MAP”, acrescenta Suely. “Embora outros estudos sejam necessários, o esquema de tratamento adjuvante com MAPIE deve ser considerado com cautela no grupo de pacientes mau respondedores, uma vez que o estudo também mostrou uma maior toxicidade e maior risco no desenvolvimento de um segundo tumor maligno no grupo MAPIE”, conclui.
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Referência: Comparison of MAPIE versus MAP in patients with a poor response to preoperative chemotherapy for newly diagnosed high-grade osteosarcoma (EURAMOS-1): an open-label, international, randomised controlled trial- Published Online: 25 August 2016- DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S1470-2045(16)30214-5