angelica 21 1 bxAngélica Nogueira-Rodrigues (foto), pesquisadora da UFMG e vice-presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG), é primeira autora de estudo publicado no International Journal of Gynecological Cancer que descreve as características sociodemográficas, clinicopatológicas e a qualidade de vida de pacientes com câncer do colo do útero ao diagnóstico no Brasil.

O câncer do colo do útero é o quarto câncer mais comum em mulheres em todo o mundo, e apesar disso, dados epidemiológicos e de qualidade de vida (QV) em pacientes com câncer do colo do útero em países de baixa e média renda são escassos”, esclarecem os autores.

O estudo EVITA (EVA001/LACOG 0215) é um estudo de coorte prospectivo em pacientes recém-diagnosticados com câncer do colo do útero entre maio de 2016 e dezembro de 2017, estágios I-IVB, em 16 centros, representando as cinco regiões brasileiras. No baseline foi realizada a avaliação médica e administrado o questionário QLQ-CX24/C30 da Organização Europeia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC).

Resultados

O estudo incluiu 631 pacientes com mediana de idade ±DP de 49,3±13,9 anos; a cor da pele era não branca em 65,3% e 68,0% tinham ≤8 anos de escolaridade. No total, 85,1% dos pacientes realizaram o Papanicolau. Os principais motivos relatados pelos pacientes para não realizar o Papanicolau foram falta de interesse (46,9%), vergonha ou constrangimento (19,7%), falta de conhecimento (19,7%) e dificuldade de acesso (9,1%).

A maioria dos pacientes foi diagnosticada com doença localmente avançada ou metastática (estágio clínico FIGO II–IV em 81,8% – estágio II em 35,2%, estágio III em 36,1% e estágio IV em 10,5%). Pacientes com estágio clínico III-IV apresentaram pior função física e desempenho.

Os resultados revelam que o câncer do colo do útero no Brasil geralmente é diagnosticado em estágio avançado, com a maioria das pacientes com baixa escolaridade formal e sem emprego formal. “A falta de interesse foi identificada como o principal motivo para a não realização do exame de triagem, e o acesso limitado foi relatado como motivo por menos de 10% das pacientes. Campanhas de conscientização devem ser uma prioridade governamental, especialmente voltadas para a população carente, juntamente com amplo acesso ao tratamento”, concluíram.

Referência: Rodrigues AN, de Melo AC, Calabrich AFDC, et al - Characteristics of patients diagnosed with cervical cancer in Brazil: preliminary results of the prospective cohort EVITA study (EVA001/LACOG 0215) - International Journal of Gynecologic Cancer Published Online First: 29 December 2021. doi: 10.1136/ijgc-2021-002972