Estudo publicado no periódico Transplantation and Cellular Therapy buscou descrever os resultados e examinar os fatores de risco para sobrevida global, sobrevida livre de leucemia, incidência cumulativa de recidiva, mortalidade sem recidiva (NRM) e doença do enxerto contra o hospedeiro (GVHD) após transplante alogênico de células-tronco para leucemia linfoblástica aguda em centros brasileiros. O hematologista Wellington Fernandes da Silva (foto), médico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), é o primeiro autor do trabalho.
O transplante alogênico de células-tronco (TCTH) continua sendo uma abordagem potencialmente curativa para a leucemia linfoblástica aguda (LLA), especialmente para pacientes de alto risco e aqueles com doença recidivante/refratária, embora sua eficácia seja compensada por uma toxicidade não desprezível. Pacientes adultos com LLA se saem pior em países em desenvolvimento com poucos dados sobre o TCTH neste cenário.
Neste estudo de registro retrospectivo foram incluídos pacientes com LLA ou leucemia de linhagem ambígua acima de 16 anos que realizaram o primeiro TCTH em 5 centros brasileiros entre janeiro de 2007 e dezembro de 2017.
No geral, foram incluídos 275 pacientes com idade mediana de 31 anos (variação, 16-65). O cromossomo Filadélfia foi encontrado em 35%. Doador irmão compatível (MSD), doador não relacionado compatível (MUD), doador não relacionado não compatível (MMUD), doador haploidêntico e cordão umbilical foram relatados em 53%, 19%, 9%, 19% e 5%, respectivamente.
A taxa de falha do enxerto foi de 1,5%. A incidência cumulativa em 5 anos de GVHD agudo grau II-IV e GVHD crônico foi de 54,2% e 26,2%, respectivamente. A incidência cumulativa de recidiva (CIR) e mortalidade sem recidiva (NRM) em cinco anos foram de 28,1% e 34,1%, respectivamente. O envolvimento do sistema nervoso central no diagnóstico (HR=2,2) e o status da doença (HR 1,8 para CR2+ e HR 7,9 para refratários) aumentaram a incidência de recidiva, enquanto o uso de enxerto de sangue periférico (HR=0,51) e doador haploidêntico (HR= 0,4) diminuíram significativamente a incidência de recidivas.
A sobrevida global e sobrevida livre de doença em cinco anos foram de 40,7% (95% CI 35,1-47,1) e 37,8% (95% CI-32,3-44,1), respectivamente. A idade do paciente, idade do doador e status da doença foram independentemente associados com a sobrevida global e sobrevida livre de doença. A positividade pré-TCTH de doença residual mínima (>0,01%) foi associada a pior sobrevida livre de doença (HR=1,47) nos casos disponíveis.
“Esta é a maior casuística de LLA adultos recebendo TCTH do Brasil. Enquanto a sobrevida global e sobrevida livre de doença foram semelhantes aos dados publicados, a mortalidade sem recidiva. A idade do paciente e a idade do doador superaram o tipo do doador ou a fonte do enxerto em nossa análise. Curiosamente, o TCTH haploidêntico relacionou-se a menor incidência cumulativa de recidiva, enquanto o uso de doador não relacionado compatível foi associado a maiores taxas de mortalidade sem recidiva e GVHD. Esses resultados impactam na estratégia de seleção de doadores em nosso país, visando oferecer oportunamente o TCTH para pacientes com LLA de alto risco, e também podem servir de plataforma para estudos prospectivos futuros no nosso país., concluíram os autores.
Referência: Silva WF, Cysne DN, Kerbauy MN, Colturato I, Maia ACA, Tucunduva L, Barros GM, Colturato VA, Hamerschlak N, Rocha V. Predictive Factors and Outcomes After Allogeneic Stem-Cell Transplantation for Adults with Acute Lymphoblastic Leukemia in Brazil. Transplant Cell Ther. 2022 Jul 29:S2666-6367(22)01511-1. doi: 10.1016/j.jtct.2022.07.025. Epub ahead of print. PMID: 35914726.