Na oncologia, a maior parte dos medicamentos que receberam aprovação acelerada ao longo dos últimos 25 anos demonstraram benefício clínico, garantem as autoridades da Food and Drug Administration (FDA), em artigo no JAMA Oncology. No entanto, a agência reguladora norte-americana observa que 5% dessas drogas foram retiradas do mercado pelos patrocinadores e 40% ainda não completaram os requisitos de pós-comercialização para as indicações recebidas. Outro achado mostra que 72% das aprovações aceleradas foram embasadas em estudos de braço único.
A agência norte-americana passou a limpo suas próprias decisões de aprovação acelerada em um estudo de revisão que considerou todos os medicamentos aprovados na oncologia e na oncohematologia, desde o início do programa, em dezembro de 1992, até maio de 2017. Foram aprovados no período 64 medicamentos, para 93 novas indicações, incluindo 53 novas moléculas.
Esta é a terceira atualização da FDA, que em 2004 e 2011 também avaliou o modelo de aprovação acelerada.
Resultados
Os resultados mostram que os chamados postmarketing requirements (PMRs) foram cumpridos por apenas 51 das indicações, o que representa pouco mais da metade (55%), em um acompanhamento pela mediana de 3,4 anos. Das 42 indicações restantes, 37 (40%) não completaram seus estudos de PMR e 5 (5%) foram retirados do mercado pelos patrocinadores, quatro deles de forma voluntária, depois que os estudos não conseguiram demonstrar benefício clínico. O quinto medicamento é Avastin (bevacizumabe), da Roche, que não foi retirado voluntariamente pela farmacêutica, mas em 2011 perdeu sua indicação para câncer de mama HER2-negativo por decisão da FDA.
Este estudo de revisão também identificou que a maioria das indicações que receberam aprovação acelerada foram avaliadas em estudos de um único braço (72%). Os endpoints mais comuns foram taxa de resposta (87%), incluindo taxa de resposta hematológica, além de sobrevida livre de progressão ou tempo para a progressão (9%), sobrevida livre de doença ou sobrevida livre de recorrência (4%). Para as drogas com PMRs concluídas, os endpoints de sobrevida livre de progressão e tempo de progressão foram os mais avaliados (39%). Sobrevida global foi avaliada em 29% dos estudos de PMR, seguido da taxa de resposta, com 26%.
Quando se considera o mecanismo de ação dos agentes com aprovação acelerada, 29 foram inibidores de tirosina-quinase, 29 anticorpos monoclonais (incluindo 16 inibidores de checkpoint imune anti- PD-1 e anti PD-L1), 15 terapias citotóxicas, 5 anticorpos conjugados e 4 hormonioterapias. Alguns medicamentos receberam aprovação acelerada para várias indicações, como é o caso de Keytruda (pembrolizumabe, MSD) e Glivec (imatinibe, da Novartis), cada um com seis indicações, e o anti PD-1 nivolumabe, com 5, além da aprovação em combinação com ipilimumabe. Atezolizumab, bevacizumabe, brentuximabe vedotin, cetuximabe, dasatinibe, everolimus, ibrutinibe, letrozol, doxorrubicina lipossomal, nilotinibe, avelumabe e pemetrexede receberam aprovação acelerada, com 2 indicações cada.
"O programa de aprovação acelerada salienta o risco, explica a incerteza e permite flexibilidade regulatória para tornar a oncologia segura e eficaz, disponibilizando medicamentos aos pacientes de forma mais rápida que a via regular de aprovação”, concluem os autores.
Referência: Beaver JA, Howie LJ, Pelosof L, Kim T, Liu J, Goldberg KB, Sridhara R, Blumenthal GM, Farrell AT, Keegan P, Pazdur R, Kluetz PG. A 25-Year Experience of US Food and Drug Administration Accelerated Approval of Malignant Hematology and Oncology Drugs and Biologics A Review. JAMA Oncol. Published online March 01, 2018. doi:10.1001/jamaoncol.2017.5618