Em artigo no Journal of Clinical Oncology, Carmona-Bayonas et al. relatam um modelo preditivo de sobrevida livre de progressão em pacientes com tumores neuroendócrinos e endócrinos tratados com análogos de somatostatina (SSAs). A ferramenta prognóstica reflete os achados do Grupo Espanhol (GETNE-TRASGU) e pode ser útil para estratificar pacientes e subsidiar decisões de tratamento na prática clínica. "O estudo valida algo que já se pratica porque as variáveis testadas sao conhecidamemte, em sua maioria, prognósticas", observa a oncologista Rachel Riechelmann (foto), diretora do Departamento de Oncologia do A.C. Camargo Cancer Center e diretora de pesquisa do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG).
Análogos de somatostatina são recomendados para o tratamento de primeira linha da maioria dos pacientes com tumores neuroendócrinos gastroenteropancreáticos (GEP) bem diferenciados, mas o benefício do tratamento é heterogêneo.
Neste estudo foram utilizados dados do GETNE para inscrever pacientes com GEP primário, Ki-67 ≤ 20% tratados com SSA como monoterapia de primeira linha para a doença avançada. Um nomograma desenvolvido para prever a sobrevida livre de progressão foi validado em uma série independente de pacientes (The Christie NHS Foundation Trust, Manchester, Reino Unido).
Resultados
Foram recrutados 535 pacientes (GETNE, n = 438; Manchester, n = 97). A SLP mediana e a sobrevida global na coorte de derivação foram 28,7 meses (IC 95%, 23,8 a 31,1) e 85,9 meses (IC 95%, 71,5 a 96,7 meses), respectivamente.
Nove covariáveis foram significativamente associadas à SLP: localização primária do tumor, porcentagem de Ki-67, proporção de neutrófilos / linfócitos, fosfatase alcalina, extensão do envolvimento hepático, presença de metástases ósseas e peritoneais, status de progressão documentada e presença de sintomas ao iniciar o SSA. “O modelo GETNE-TRASGU demonstrou calibração adequada, bem como capacidade de discriminação com um C index de 0,714 (IC 95%, 0,680 a 0,747) e 0,732 (95% IC, 0,658 a 0,806) nas séries de derivação e validação, respectivamente”, descrevem os autores.
Em conclusão, este nomograma baseado em evidências do GETNE-TRASGU estratifica pacientes com tumores neuroendócrinos GEP que recebem tratamento com SSA de acordo com a SLP estimada, podendo ser uma ferramenta para estratificar pacientes e tomar decisões de tratamento. "Na minha opinião, o estudo tem pouca aplicabilidade prática porque utiliza parâmetros que já são associados a pior prognóstico e controle de doença, como ki67 mais elevado e carga tumoral", conclui Rachel.
Referência: Carmona-Bayonas, A., Jiménez-Fonseca, P., Lamarca, Á., Barriuso, J., Castaño, Á., Benavent, M., … García-Carbonero, R. (2019). Prediction of Progression-Free Survival in Patients With Advanced, Well-Differentiated, Neuroendocrine Tumors Being Treated With a Somatostatin Analog: The GETNE-TRASGU Study. Journal of Clinical Oncology, JCO.19.00980. doi:10.1200/jco.19.00980