Indivíduos que desenvolvem casos de carcinoma basocelular com alta frequência apresentam risco três vezes maior de desenvolver outros tipos de câncer, incluindo cânceres hematológicos, de mama, cólon e próstata. Os dados são de um estudo preliminar de pesquisadores da Stanford University School of Medicine e foram publicados no JCI Insight. Os resultados podem ajudar a identificar pacientes que devem realizar um rastreamento mais intenso. "A facilidade do diagnóstico de carcinoma basocelular associada ao acesso a serviços de prevenção e tratamento contribui com a detecção precoce de outros tipos de câncer e pode ser considerada uma importante ferramenta de rastreamento", observa Ana Gabriela Salvio (foto), dermatologista do Hospital Amaral Carvalho, em Jaú/SP.
Foto: Beatriz Zambonato
“Descobrimos que as pessoas que desenvolvem seis ou mais carcinomas basocelulares durante um período de 10 anos são cerca de três vezes mais propensas a desenvolver outros cânceres não relacionados em comparação com a população geral", disse Kavita Sarin, professor assistente de dermatologia e autor sênior do estudo. "A pele é basicamente um experimento de mutagênese ambulante, o melhor órgão para detectar problemas genéticos que podem levar ao câncer. Esta descoberta pode ajudar a identificar pessoas com um risco aumentado de uma malignidade ao longo da vida", observou.
Foram incluídos 61 pacientes com desenvolvimento de carcinoma basocelular (CBC) com frequência incomum (uma média de 11 por paciente em um período de 10 anos), atendidos no Stanford Hospital and Clinics entre janeiro de 2005 e dezembro de 2015. Os participantes foram analisados para mutações em 29 genes que codificam proteínas de reparo de danos ao DNA. Paralelamente, uma revisão retrospectiva de casos-controle foi realizada para investigar a associação de neoplasias com o desenvolvimento frequente de CBC em um grande banco de dados de seguro médico dos Estados Unidos (Truven), que incluiu 13.264 indivíduos com 6 ou mais casos de carcinoma basocelular entre 2007 e 2011.
Indivíduos com 6 ou mais CBCs apresentaram uma prevalência aumentada de mutações germinativas em genes de reparo de DNA e tiveram um risco aumentado de outras malignidades, com um aumento de 3,5 vezes na coorte de CBCs frequente e um aumento de 3,2 vezes na base de dados Truven. Na coorte de pacientes com carcinoma basocelular frequente, 19,7% possuía mutações patogênicas em genes de reparo ao DNA - APC, BARD1, BRCA1, BRCA2, CDH1, CHEK2, MLH1, MSH2, MSH6, MUTYH, NBN e PALB2. “Nossos dados implicam o desenvolvimento frequente de CBC como um marcador externo de risco de câncer hereditário”, observou Sarin.
Os pesquisadores continuam a inscrever os pacientes de Stanford no estudo, que está em andamento, para avaliar se mutações específicas em genes responsáveis pelo reparo ao DNA estão relacionadas ao desenvolvimento de tumores específicos. Eles também pretendem realizar um estudo semelhante em pacientes com melanomas frequentes.
Os carcinomas basocelulares são comuns - mais de 3 milhões de casos por ano são diagnosticados apenas nos Estados Unidos - e geralmente são altamente tratáveis. "Cerca de 1 em cada 3 caucasianos irá desenvolver carcinoma basocelular em algum momento da sua vida, o que não significa que tenham um risco aumentado de outros tipos de câncer. Se, no entanto, o paciente tiver sido diagnosticado com vários carcinomas basocelulares em alguns anos, talvez seja necessário considerar o teste genético e aumentar a intensidade da triagem”, concluiu o pesquisador.
O estudo foi apoiado pela Dermatology Foundation, National Institutes of Health, Stanford Society of Physician Scholars, American Skin Association e Pellepharm Inc.
Referência: Frequent basal cell cancer development is a clinical marker for inherited cancer susceptibility - Hyunje G. Cho, Kavita Y. Sarin et al - First published August 9, 2018 Free access | 10.1172/jci.insight.122744