Funcionários da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP) se reuniram essa semana em reunião plenária na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) para discutir o futuro da Fundação, que enfrenta rumores de desmobilização pelo governo do Estado de São Paulo. Na ocasião, foram apresentados números que atestam sua produtividade e justificam a permanência dos serviços.
“Somos um centro de excelência reconhecido nacional e internacionalmente, mas não fazemos marketing, e exatamente por isso estamos nessa situação. O que falta para a nossa instituição é mostrar o que somos, o que fazemos”, defende a dentista Andréa Alves de Sousa, que trabalha com a reabilitação de pacientes com sequelas do tratamento de câncer de cabeça e pescoço. O serviço oferece reabilitação psíquica, social e física a esses indivíduos, com o fornecimento de próteses (aproximadamente 600 por ano, entre boca, nariz, olhos e orelhas) que possibilitam que eles retomem atividades de fala e alimentação e ajudam a resgatar a autoestima, o convívio social e a qualidade de vida.
A reabilitação é um dos três principais serviços oferecidos pela Fundação, ao lado do Laboratório de Patologia e do Registro Hospitalar de Câncer.
Registro Hospitalar de Câncer
A FOSP também é responsável pela coordenação da base estadual de dados hospitalares sobre câncer, a única fonte de dados sobre a assistência oncológica praticada nos Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) e nas Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do Estado. Até junho de 2019 o serviço contava com mais de um milhão de registros.
“Esses registros constituem uma fonte muito importante de informação sobre a assistência oncológica no Estado de São Paulo, com dados referentes ao diagnóstico, tratamento e evolução do paciente após o tratamento. Os dados são provenientes de 74 dos 78 hospitais da Rede de Oncologia do Estado de São Paulo”, explica a epidemiologista Carolina Terra de Moraes.
A especialista observa ainda que existem profissionais desses hospitais que são treinados pela FOSP para exercer a função de registradores de câncer e coletar dados sobre os pacientes nos prontuários hospitalares.
A formação é um dos pilares da Fundação, que oferece ainda um curso de formação de técnicos em citopatologia e é responsável pela capacitação de mais de mil profissionais de atenção básica à saúde por ano para ações de rastreamento e detecção precoce dos cânceres de colo do útero e de mama.
Laboratório de Patologia
Apenas em 2018, o Laboratório de Patologia da Fundação Oncocentro realizou mais de 247 mil exames de papanicolao, 13,7 mil biopsias de colo do útero, mama e pele, e mais de três mil exames de imuno-histoquímica. Apresenta a terceira maior produção do Estado em exames citopatológicos e responde pelo monitoramento de qualidade de outros laboratórios prestadores de serviços para o Sistema Únicos de Saúde (SUS).
“Somos em 35 funcionários responsáveis pela realização de todos esses exames. Também trabalho no Hospital das Clínicas, e com a mesma quantidade de funcionários são realizados cerca de 20 mil exames por ano. Falar que a Fundação Oncocentro é ociosa chega a ser uma piada”, afirma o patologista Alexandre Muxfeldt Ab´Saber, diretor do laboratório de patologia, em resposta a uma declaração de que a FOSP estaria defasada e ociosa.
“Essa informação não é real. O nosso trunfo é a qualidade do nosso trabalho”, salienta José Eluf-Neto, diretor-presidente na Fundação. “Temos uma estrutura extremamente enxuta, com 89 funcionários, e um orçamento anual de apenas R$ 10,4 milhões, e mesmo assim apresentamos uma produtividade muito grande nos três setores em que atuamos”, ressalta. “Somos um serviço de referência. O ideal seria canalizar essa energia para aprimorar o serviço, fortalecer, e não desativar algo que está funcionando a contento, é eficiente”, acrescenta.
Para a deputada Beth Sahão (PT-SP), responsável pela realização da plenária na Alesp, o Governo do Estado tem estabelecido uma política de esvaziamento das instituições. "É uma estratégia de desvalorização, falar que determinado serviço dá prejuízo e, assim, convencer a opinião pública de que a privatização é a atitude correta”, afirma.
De acordo com os funcionários, apesar das dificuldades financeiras, do orçamento apertado e dos baixos valores pagos pelo SUS, a Fundação não é deficitária. Um dos principais responsáveis pelo equilíbrio das contas é o Laboratório de Patologia. “Fomos autorizados a vender serviços de laboratório para fora do SUS. O montante ainda é pequeno, mas ajuda a cobrir os custos da área de reabilitação, por exemplo”, diz Eluf.
Mas, se não apresenta déficit financeiro, o que justifica o interesse do Governo em transferir as atividades para diferentes locais, fragmentando os serviços oferecidos? Um dos motivos apontados seria o interesse no prédio-sede da fundação, que fica em uma área nobre de São Paulo.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, mas não obteve resposta até o fechamento dessa edição. A assessoria de imprensa informou que estão sendo feitos estudos técnicos e que o futuro da FOSP ainda não foi definido.