A radioterapia foi a área escolhida pela Fundação do Câncer para iniciar o seu projeto de Educação. A partir de junho, o Programa Nacional de Formação em Radioterapia irá formar 22 físicos médicos e 80 técnicos em radioterapia, vinculados a hospitais públicos ou filantrópicos contemplados no Plano de Expansão da Radioterapia no Sistema Único de Saúde (SUS), e a estabelecimentos privados cadastrados no SUS, das cinco regiões do país.
“A radioterapia é uma área muito carente no Brasil. Para se ter uma ideia, cerca de 45 a 50 mil pessoas que precisariam de radioterapia não têm acesso ao tratamento. O Plano de Expansão prevê a aquisição de 80 equipamentos novos e algumas unidades de braquiterapia, o que exige uma estrutura física e de recursos humanos para sua operação. Essa foi nossa principal motivação”, explica o coordenador do programa, professor Carlos Eduardo Almeida, físico médico da Fundação e Professor Titular em Física Médica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Idealizado e desenvolvido na Fundação do Câncer em parceria com o Laboratório de Ciências Radiológicas da UERJ, o programa é fruto da aprovação da proposta da Fundação do Câncer junto ao Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON), do Ministério da Saúde. Para sua viabilização, a Fundação captou doações de empresas e pessoas físicas que contaram com o incentivo fiscal por meio do PRONON no valor de cerca de R$ 9,5 milhões, que serão destinados a bolsas para os participantes, despesas de passagens, estadias no Rio de Janeiro, desenvolvimento de uma plataforma educacional para gerenciamento do programa e armazenamento de todo o conteúdo didático utilizado, alimentação, além de toda a gestão do curso, com a infraestrutura para aulas teóricas e práticas e o pagamento dos professores.
“É uma estrutura progressiva. O material didático desenvolvido nesse módulo está sendo armazenado em uma plataforma educacional que vai ser usada pela Fundação em outros cursos, e também será disponibilizada para outros centros que tenham programas de formação de recursos humanos na área de radioterapia e física médica. Isso é uma grande novidade porque não estamos apenas formando, mas criando um banco de informações que depois será aberto aos centros de formação no país”, afirma Carlos Eduardo.
Capacitação contínua
Para atender ao Programa Nacional de Radioterapia, do Ministério da Saúde, o Brasil precisaria de mais 240 técnicos e, pelo menos, 100 físicos. “A Fundação do Câncer realizou um levantamento e identificou que o número de residências e cursos para formação de médicos e, principalmente, técnicos e físicos, é limitado e não conseguiria atender a esse programa se não houvesse um esforço para formação específica de pessoal”, afirma Carlos Eduardo.
No curso para físicos, que começa dia 21 de junho, se inscreveram 30 candidatos, sendo selecionados 22 participantes que ao final de dois anos receberão o título de Mestre Profissional em Física Médica pela UERJ. Os profissionais são dos estados do Ceará, Amazonas, Acre, Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Tocantins, São Paulo, Alagoas, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. “Entre os inscritos, 60% são da região norte e nordeste, que vêm com o compromisso de voltar para as instituições em suas regiões. Isso nos deixa muito feliz, pois é uma forma de diminuir desigualdades na distribuição de profissionais capacitados entre as diversas regiões do país. O acesso aos centros de formação no centro-sul é bem maior”, afirma.
No curso para técnicos, que começa dia 4 de julho, foram ofertadas 80 vagas, divididas em quatro cursos de 20 alunos. Foram 107 inscritos filiados a instituições filantrópicas ou públicas, e mais 50 solicitações de técnicos não ligados ao serviço público, número que superou as expectativas. “Isso nos mostra que a busca pelo conhecimento, pela formação, é muito grande. Mesmo que haja um atraso na implantação dessas máquinas, esse pessoal estará sendo absorvido pelo parque médico e hospitalar do Brasil”, diz o coordenador do Programa.
A iniciativa inclui, ainda, a atualização de até 300 médicos radio-oncologistas, físicos e técnicos. “Temos um programa já aprovado pelo PRONON, que prevê a atuação da Fundação de forma descentralizada, se deslocando para as cinco macro-regiões do país”, conclui.