Um composto natural encontrado no gengibre amargo (Zingiber zerumbet), a zerumbona apresenta propriedades antiproliferativas, antioxidantes, antiinflamatórias, analgésicas, antimicrobianas e antiespasmódicas. Estudo piloto realizado por pesquisadores brasileiros apresentou resultados promissores da zerumbona na melhoria da qualidade de vida e no controle dos sintomas em pacientes com câncer sem opções de tratamento. O trabalho tem como primeira autora a oncologista Larissa Vieira de Queiroz (foto) e como autor sênior o oncologista Auro Del Giglio, professor da Faculdade de Medicina do ABC.
Nesta análise, del Giglio e colegas argumentam que pacientes em cuidados paliativos geralmente vivenciam sofrimento físico difícil de aliviar, bem como sofrimento emocional, espiritual e social significativo, lembrando que terapias não medicamentosas e medicamentosas têm papel crescente no alívio dos sintomas desses pacientes.
O objetivo deste estudo piloto foi avaliar o papel do extrato vegetal contendo principalmente zerumbona em pacientes com tumores sólidos sem opções de tratamento e, assim, avaliar se a administração deste extrato vegetal poderia melhorar a qualidade de vida, depressão, ansiedade, fadiga e sono desses pacientes.
O estudo incluiu 35 participantes (idade média de 68 anos; 64% homens), dos quais 16 completaram o estudo de oito semanas com 400 mg de zerumbona, duas vezes ao dia.
Os resultados mostraram que a população por intenção de tratar não apresentou alterações significativas no peso ou na qualidade do sono durante o período do estudo. Avaliações realizadas usando o Questionário de Qualidade de Vida da Organização Europeia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC QLQ-C30) mostraram melhorias significativas na qualidade de vida global (p = 0,072) e nos níveis de atividade (p = 0,0393), assim como demonstraram benefício nas dimensões emocionais (p = 0,0023) e social (p = 0,0001).
A análise também considerou as pontuações do questionário Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), revelando melhora significativa na ansiedade (p = 0,032) e na depressão (p = 0,021), enquanto as pontuações do questionário Functional Assessment of Chronic Illness Therapy-Fatigue (FACIT-F) indicaram melhora significativa (p = 0,001) nos níveis de fadiga. O gengibre amargo foi bem tolerado e apresentou baixa toxicidade.
“O gengibre amargo apresentou resultados promissores na melhoria da qualidade de vida e na redução dos sintomas de ansiedade e depressão na população estudada”, concluem os autores, destacando a necessidade de um estudo randomizado controlado por placebo para confirmar esses resultados.
Em síntese, o estudo mostra melhorias nas dimensões emocional, social e de atividade com o uso do extrato de gengibre amargo em pacientes terminais com tumores sólidos sem opções de tratamento. Os escores dos questionários FACIT-F e PSQI-BR indicaram melhorias na fadiga e na ansiedade e depressão, respectivamente. Esses efeitos benéficos não foram associados a reduções significativas no peso ou na qualidade do sono, conforme demonstrado pelo questionário PSQI-BR durante as oito semanas do estudo. Além disso, o extrato de gengibre amargo foi muito bem tolerado pelos pacientes.
Referência: de Queiroz LV, Neto JF, Fonseca FLA, Pinheiro CC, Del Giglio A. Bitter ginger (Zingiber zerumbet) for patients with solid tumors with no treatment options: A pilot clinical study. Complement Ther Med. 2024 Mar; 80:103021. doi: 10.1016/j.ctim.2024.103021. Epub 2024 Jan 8. PMID: 3819958 3.