Não só pacientes com câncer de mama triplo negativo, mas também aquelas com receptores hormonais positivos e HER2 negativo (RH+/HER2-) podem se beneficiar dos testes genéticos para avaliar a presença de BRCA1/2 antes do início do tratamento oncológico. É o que apontam os dados da análise secundária do estudo GeparOcto, publicados no JAMA Oncology. Rodrigo Guindalini (foto), oncologista clínico/oncogeneticista da Oncologia D’Or, comenta os resultados do estudo.
Na Alemanha, o estudo clínico randomizado GeparOcto comparou a eficácia de dois regimes de tratamento neoadjuvante para câncer de mama: epirrubicina, paclitaxel e ciclofosfamida em dose densa (iddEPC) versus paclitaxel semanal e doxorrubicina lipossomal não-peguilada (PM), em pacientes com diferentes subtipos de câncer de mama. A carboplatina foi adicionada ao tratamento de todos os pacientes com câncer de mama triplo negativo randomizados para o braço PM (PMCb). No geral, não foi observada diferença nas taxas de resposta patológica completa (ypT0/is ypN0) entre os braços do estudo.
Nesta análise secundária, foi realizado um estudo retrospectivo de biomarcadores em 914 pacientes investigando a associação entre a presença de variantes germinativas em genes de predisposição a câncer e a taxa de resposta patológica completa. No geral, foram observadas taxas mais elevadas em pacientes portadoras de mutação BRCA1/2 do que em pacientes sem mutação nesses genes (60,4% vs 46,7%; odds ratio [OR] 1,74; IC95% 1,13-2,68; P = 0,01). No subgrupo das mulheres com câncer de mama triplo negativo, as portadoras de mutação BRCA1/2 apresentaram maior taxa de resposta patológica completa em ambos os braços, sendo a resposta foi mais pronunciada no braço PMCb (74,3% vs 47,0%; OR, 3,26; IC 95%, 1,44-7,39; P = 0,005) do que no braço iddEPC (64,7% vs 45,0%; OR, 2,24; IC95%, 1,04-4,84; P = 0,04). Este estudo também demonstrou que o status positivo para mutação BRCA1/2 foi associado a maiores taxas de resposta patológica completa no câncer de mama RH+/HER2- (31.8% vs 11.9%; OR, 3.44; 95% CI, 1.22-9.72; P = .02).
Segundo Guindalini, esta análise secundária se soma ao corpo de evidência de que a incorporação do uso de platinas aos esquemas de tratamentos convencionais em pacientes com câncer de mama triplo negativo portadoras de mutação BRCA1/2 pode ser relevante. “Algo muito interessante evidenciado foi que a presença de mutação BRCA1/2 também influenciou positivamente a taxa de resposta no subgrupo de câncer de mama RH+/HER2-. Tal benefício, de forma geral, era associado somente ao subgrupo triplo negativo”, destaca o especialista.
“A taxa elevada de resposta patológica completa no câncer de mama triplo negativo e RH+/HER2- com mutação BRCA1/2, sugere que os testes genéticos para pesquisa de mutações BRCA1/2 devem ser considerados para esses pacientes antes do início do tratamento”, concluem os autores do estudo.
Informações do ensaio clínico no ClinicalTrials.gov: NCT02125344
Referência: Pohl-Rescigno E, Hauke J, Loibl S, et al. Association of Germline Variant Status With Therapy Response in High-risk Early-Stage Breast Cancer: A Secondary Analysis of the GeparOcto Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. Published online March 12, 2020. doi:10.1001/jamaoncol.2020.0007