Nos últimos dias e semanas de vida, muitos pacientes com câncer desenvolvem delirium. Revisão publicada na Cancers busca fornecer uma discussão aprofundada dos ensaios clínicos sobre delirium no cenário de cuidados paliativos, com foco em estudos que investigam intervenções farmacológicas. Carlos Eduardo Paiva (foto), do departamento de Oncologia Clínica do Hospital de Câncer de Barretos, é autor correspondente, e David Hui, do Departamento de medicina paliativa do MD Anderson Cancer Centre, assina como primeiro autor.
Caracterizado como uma perturbação aguda da consciência, o delirium é a síndrome neuropsiquiátrica mais comum em pacientes com câncer avançado, com alteração da percepção e atenção, diminuição da cognição e anormalidades perceptivas que flutuam ao longo do tempo. O delirium do fim da vida, também conhecido como delirium terminal, é uma disfunção cerebral aguda que ocorre nas últimas semanas a dias de vida e é considerada irreversível.
Neste artigo, Paiva e colegas revisam diferentes tratamentos para delirium em pacientes recebendo cuidados paliativos, destacando que diante do curso clínico e da expectativa de vida extremamente curta dessa população, os objetivos do tratamento para o delirium de fim de vida diferem de outras populações. Os autores enfatizam a importância da paliação dos sintomas e do equilíbrio entre a comunicação e a necessidade de sedação, assim como enfatizam a importância do suporte para cuidadores.
A análise mostra que, até o momento, apenas seis ensaios randomizados examinaram opções farmacológicas em populações de cuidados paliativos, e apenas dois se concentraram no delirium no fim da vida. “Esses estudos sugerem que neurolépticos e benzodiazepínicos podem ser benéficos para o controle da inquietação terminal ou agitação associada ao delirium no fim da vida. No entanto, mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados e encontrar novas opções de tratamento para esse problema desafiador”, concluem os autores, que propõem uma abordagem prática para o gerenciamento do delirium do fim da vida (veja figura abaixo) e reafirmam a importância de educar os cuidadores sobre a natureza irreversível desta síndrome e identificar suas várias manifestações.
Fonte: Adaptado de Hui, D.; Cheng, S.-Y.; Paiva, C.E, Cancers 2024, 16, 2045
Referência:
Hui, D.; Cheng, S.-Y.; Paiva, C.E. Pharmacologic Management of End-of-Life Delirium: Translating Evidence into Practice. Cancers 2024, 16, 2045. https://doi.org/10.3390/cancers16112045