Onconews - Guideline ASCO para tratamento do câncer do colo do útero

EVA_NET_OK.jpgA ASCO emitiu seu primeiro guideline de prática clínica sobre câncer do colo do útero. A diretriz considera a variação de acesso aos cuidados tanto entre os países como muitas vezes em diferentes regiões de um mesmo país, e oferece recomendações de tratamento adaptadas à disponibilidade de recursos (básico, limitado, avançado e máximo). "Pelos critérios definidos pela ASCO, a maioria dos centros de tratamento de câncer no Brasil se classificam como limitados", afirma a oncologista Angélica Nogueira Rodrigues, presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG).

No Brasil,  o câncer do colo do útero segue sendo a 3a causa de morte por neoplasias na população feminina, mas há significativas variações regionais. Em áreas mais carentes da região Norte, a doença ainda é a primeira causa de morte por câncer em mulheres.

"Segundo dados do Ministério da Saúde, a incidência aproximada é de cerca de 15 mil casos por ano no país. Assim como a incidência, também é díspare o acesso ao tratamento e a disponibilidade de melhores tecnologias caminha na contramão dos locais de maior incidência da doença, no que concerne tanto a cirurgiões qualificados para cirurgia oncológica, aparelhos de radioterapia e diversidade de quimioterápicos", afirma Angélica. 

O painel realizou uma revisão sistemática da literatura médica publicada de 1966 a 2015, e revisou as diretrizes existentes e análises de custo-efetividade. As recomendações foram baseadas em evidências e/ou expertise do painel, e refletem o consenso de especialistas.


Cenário básico e limitado

Em cenários básicos, onde os pacientes não podem ser tratados com radioterapia, o painel recomenda a histerectomia extrafascial isolada ou após a quimioterapia neoadjuvante como opção para as mulheres com câncer do colo do útero estágios IA1 a IVA. Para pacientes com câncer de colo de útero estágio IV ou recorrente, a quimioterapia com agente único (carboplatina ou cisplatina) é recomendado em cenários básicos.

Para locais com recursos limitados o painel sugere ainda a utilização de esquemas simples ou de curta duração de radioterapia com re-tratamentos ​​para sintomas persistentes ou recorrentes. Nesse contexto, onde não houver braquiterapia, a recomendação é a histerectomia extrafascial ou a sua modificação para as mulheres com tumor residual dois a três meses após a quimioradioterapia concorrente.

Cenário avançado e máximo

A radioterapia e quimioterapia concomitantes seguido de braquiterapia é padrão em cenários avançados e máximos para mulheres com doença estádio IB à IVA. A adição de quimioterapia em baixa dose durante a radioterapia é indicada, mas não às custas de atrasar a radioterapia se a quimioterapia não estiver disponível. O painel recomenda ainda que se a paciente não puder receber tratamento com intenção curativa, a radioterapia paliativa deve ser utilizada para aliviar os sintomas de dor e sangramento.

Para pacientes com estágio IVB, recidivadas ou com doença persistente após tratamento combinado, e sem perspectiva de resgate cirúrgico, a diretriz recomenda platina (cisplatina ou carboplatina) combinada a paclitaxel e bevacizumabe.

Rastreamento

Cenários de menos recursos tendem a ter pouco ou nenhum programa de rastreamento do câncer do colo do útero. Como resultado, muitas vezes as pacientes são diagnosticadas com doença já avançada, o que requer tratamentos que podem não estar disponíveis nestes contextos.

"Pelo menos dois terços das mortes por câncer do colo do útero ocorrem em mulheres que não tinham sido rastreadas regularmente. Se melhoramos o rastreamento e a vacinação contra o HPV em todo o mundo, poderemos ser capazes de diminuir substancialmente a mortalidade por câncer do colo do útero", disse Jonathan S. Berek, co-presidente do Painel de Experts e chefe da área de obstetrícia, ginecologia e oncologia ginecológica da Stanford University School of Medicine, em Stanford, Califórnia.

A prevenção e o rastreamento do câncer do colo de útero serão abordados em dois guidelines separados, também estratificados de acordo com os recursos disponíveis, que serão publicados ainda este ano pela ASCO.

O guideline “Management and Care of Women with Invasive Cervical Cancer: American Society of Clinical Oncology Resource-Stratified Clinical Practice Guideline” foi publicado no Journal of Global Oncology e está disponível em www.asco.org/rs-cervical-cancer-treatment-guideline juntamente com materiais complementares.