Publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO), guideline da ASCO fornece recomendações para o uso de inibidores de PARP no tratamento do câncer epitelial de ovário, tuba uterina ou primário de peritôneo. As recomendações são dirigidas a pacientes sem tratamento prévio com essa classe de medicamentos. “O trabalho organiza as evidências e propõe diretrizes para seu uso e manejo de eventos adversos, com indicações claras para monitoramento e redução de dose a fim de preservar a eficiência e segurança do tratamento e a qualidade de vida das pacientes”, avalia a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz (foto), Coordenadora da Oncologia Clínica do ICESP.
A oncologista observa que os inibidores de PARP se mostraram altamente efetivas em pacientes com câncer de ovário portadoras de mutações somáticas ou germinativas em BRCA1/2 ou com tumores que apresentem deficiência da recombinação homóloga, representando um importante avanço no tratamento dessas pacientes. “Recentemente houve demonstração de ganho em sobrevida global nas pacientes com câncer de ovário sensível a platina com mutação gBRCA e pelo menos duas linhas de tratamento prévio (SOLO2)”, ilustra.
O Painel de Especialistas considerou 17 ensaios clínicos randomizados, controlados e abertos publicados entre 2011 a 2020.
Segundo o guideline, não há evidências suficientes para apoiar o uso dos inibidores de PARP no tratamento inicial do câncer epitelial de ovário em estágio inicial (estádio I-II).
As diretrizes recomendam que pacientes com câncer epitelial de ovário estádio III-IV recém-diagnosticado com variantes na linhagem germinativa ou variantes somáticas patogênicas/provavelmente patogênicas nos genes BRCA1 ou BRCA2 (g/sBRCA1/2) e resposta completa ou parcial à quimioterapia de primeira linha à base de platina devem receber terapia de manutenção PARPi com olaparibe. Já para as pacientes com câncer de ovário seroso de alto grau (HGS) ou endometrioide com resposta completa ou parcial à quimioterapia de primeira linha à base de platina devem ser tratadas com niraparibe.
A adição de olaparibe ao bevacizumabe pode ser oferecida a pacientes com câncer epitelial de ovário estádio III-IV com g/sBRCA1/2 e/ou instabilidade genômica e uma resposta parcial ou completa à quimioterapia em combinação com bevacizumabe. A terapia de manutenção (segunda linha ou superior) com PARPi como agente único pode ser oferecida para pacientes com câncer epitelial de ovário que não receberam inibidor de PARP previamente e responderam à terapia à base de platina, independentemente do status de mutação BRCA.
O tratamento com um PARPi deve ser oferecido a pacientes com EOC recorrente que não tenha recidivado 6 meses após a terapia à base de platina, não tenham recebido um PARPi e tenham uma mutação g/sBRCA1/2 ou cujo tumor demonstre instabilidade genômica. “A utilização de inibidores da PARP não é recomendada em combinação com quimioterapia, outros agentes alvo ou imunoterapia no cenário recorrente fora do contexto de um ensaio clínico”, destacam os autores. “São necessários dados para apoiar a reutilização de PARPis em qualquer cenário”, acrescentam.
Eventos adversos
O guideline traz ainda recomendações para o gerenciamento de eventos adversos específicos como anemia, neutropenia, trombocitopenia, citopenia(a) persistente(s) e náusea.
Pacientes com anemia com necessidade de transfusão de sangue para alívio dos sintomas e/ou nível de hemoglobina <8 g/dL devem ser monitorados. A dose de PARPi deve ser reduzida se houver evidência de anemia repetida para evitar transfusões múltiplas. As diretrizes sugerem ainda que pacientes com anemia progressiva podem receber fator de crescimento de acordo com as diretrizes da ASCO e decisão do médico e do paciente.
Para pacientes com neutropenia, o fator de crescimento não é indicado para uso em pacientes recebendo PARPi diariamente. A neutropenia (grau 4 com duração de pelo menos 5-7 dias ou associada a febre) deve resultar em suspensão da dose até a recuperação da infecção e contagem de granulócitos, seguida pela redução da dose. “O suporte de fator de crescimento pode ser utilizado neste cenário para apoiar a segurança do paciente durante a suspensão do medicamento”, destacam os autores.
O documento observa que a trombocitopenia é mais comum com o niraparibe, e as diretrizes de dosagem do medicamento devem ser usadas para reduzir a dose inicial (200 mg) com base no peso e na contagem de plaquetas. Em casos de trombocitopenia persistente ou sangramento significativo apesar da redução da dose, a recomendação é descontinuar o PARPi.
O documento também observa que muitos pacientes terão taquifilaxia de sintomas de náusea durante o primeiro ciclo de terapia, ou seja, maior tolerância; entretanto, ressaltam que “a náusea persistente que requer intervenção antiemética diária, causando uma redução no performance status e/ou resultando em> 5% de perda de peso, deve resultar na redução da dose. “As interações medicamentosas devem ser analisadas cuidadosamente e os ajustes necessários de doses devem ser feitos, para garantia da segurança e continuidade do tratamento”, ressalta Estevez Diz.
Segundo a especialista, as drogas-alvo impõem dois desafios importantes: a identificação das pacientes com mutações g/sBRCA1/2 e a garantia disponibilidade dessas drogas para as pacientes. “Sabidamente esses medicamentos elevam o custo do tratamento; por outro lado, trazem benefício importante para as pacientes com indicação para estas terapias. Cabe a todos nós vencer estas barreiras”, conclui.
Informações adicionais estão disponíveis em www.asco.org/gynecologic-cancer-guidelines.
Referência: PARP Inhibitors in the Management of Ovarian Cancer: ASCO Guideline - DOI: 10.1200/JCO.20.01924 Journal of Clinical Oncology - Published online August 13, 2020.