A adição de quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC) à cirurgia citorredutora após resposta à quimioterapia à base de platina na primeira recorrência de câncer epitelial de ovário melhora significativamente a sobrevida global, como indicam resultados de Jean-Marc Classe (foto) e colegas, em artigo no Lancet Oncology. “Ao tratar pacientes com primeira recidiva tardia de câncer de ovário seroso de alto grau ou endometrioide de alto grau passível de cirurgia citorredutora completa em centros especializados, HIPEC à base de platina deve ser considerada para estender a sobrevida global”, destacam os autores.
A HIPEC em cirurgia citorredutora de intervalo para câncer de ovário melhora a sobrevida global, mas seu papel na doença recorrente é incerto. Neste estudo multicêntrico, aberto, randomizado, de fase 3 (CHIPOR; NCT01376752), foram inscritos pacientes que tiveram recidiva do câncer epitelial de ovário pelo menos 6 meses após a conclusão da quimioterapia à base de platina. Os pacientes elegíveis tinham 18 anos ou mais e status de desempenho da OMS menor que 2.
Após seis ciclos de quimioterapia à base de platina (e bevacizumabe opcional), os pacientes passíveis de receber cirurgia citorredutora completa foram randomizados (1:1) para receber HIPEC (cisplatina 75 mg/m2 em 2 L/m2 de soro a 41±1°C por 60 min) ou não, estratificados por centro, pontuação de completude da citorredução, intervalo sem platina e, por último, uso planejado de inibidor da poli (ADP-ribose) polimerase. O desfecho primário foi a sobrevida global, analisada com base na intenção de tratar em todos os pacientes randomizados.
Os resultados foram relatados no Lancet Oncology por Jean-Marc Classe e colegas e consideram 415 pacientes (207 com HIPEC, 208 sem HIPEC). Na análise primária (acompanhamento mediano de 6,2 anos), 268 (65%) pacientes morreram (126 [61%] de 207 no grupo HIPEC; 142 [68%] de 208 no grupo sem HIPEC). A sobrevida global foi significativamente melhorada com HIPEC (razão de risco estratificada 0,73, IC de 95% 0,56–0,96; p=0,024). A sobrevida global mediana foi de 54,3 meses com HIPEC (IC 95% 41,9–61,7) versus 45,8 meses sem (38,9–54,2).
Em relação à segurança, eventos adversos de grau 3 ou pior dentro de 60 dias após a cirurgia ocorreram em 102 (49%) de 207 pacientes recebendo HIPEC versus 56 (27%) de 208 não recebendo HIPEC, sendo as mais comuns anemias (47 [23%] vs 30 [14%]), hepatotoxicidade (23 [11%] vs 18 [9%]), distúrbio eletrolítico (28 [14%] vs dois [1%]) e insuficiência renal (20 [10%] vs três [1%]). Houve três mortes dentro de 60 dias da cirurgia, todas no grupo sem HIPEC.
Em síntese, o estudo que comparou os resultados de pacientes tratados com ou sem HIPEC durante a cirurgia para câncer de ovário recorrente mostrou que a sobrevida global mediana foi de 54,3 meses versus 45,8 meses em favor do grupo tratado com HIPEC.
Referência:
Hyperthermic intraperitoneal chemotherapy for recurrent ovarian cancer (CHIPOR): a randomised, open-label, phase 3 trial. Classe, Jean-Marc et al. The Lancet Oncology, DOI: 10.1016/S1470-2045(24)00531-X