Onconews - Hiperprogressão e imunoterapia no câncer de pulmão

clarissa mathias iaslc bxO tratamento com inibidores de checkpoint imune anti PD-1 / PD-L1 tem sido eficaz em várias neoplasias malignas e é considerado padrão para pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC). No entanto, há estudos sugerindo que o bloqueio de PD-1 / PD-L1 pode levar à doença hiperprogressiva (HPD), com prognóstico sombrio. Estudo publicado em abril no Annals of Oncology examinou a incidência de HPD e buscou identificar os determinantes associados à doença hiperprogressiva em pacientes com CPNPC tratados com bloqueio PD-1/PD-L1. A oncologista Clarissa Mathias (foto), Diretora da América Latina da International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC), comenta o trabalho.

“Este estudo avalia, em um número expressivo de pacientes com CPNPC tratados com imunoterapia, o fenômeno de hiperprogressão, avaliando possíveis biomarcadores para a seleção adequada dos pacientes”, afirma Clarissa Mathias, médica do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB).

O estudo incluiu pacientes com CPNPC recorrente e/ou metastático tratados com anti PD-1 / PD-L1 entre abril de 2014 e novembro de 2018. Variáveis ​​clínicas, dinâmica do crescimento do tumor e desfechos do tratamento foram analisados. A doença hiperprogressiva (HPD) foi definida de acordo com a cinética de crescimento tumoral (TGK), taxa de crescimento tumoral (TGR) e tempo até a falha do tratamento (TTF). A imunofenotipagem dos linfócitos T CD8 + do sangue periférico foi conduzida para explorar os potenciais biomarcadores preditivos de HPD.

Resultados

Um total de 263 pacientes foram analisados. A HPD foi observada em 55 (20,9%), 54 (20,5%) e 98 (37,3%) pacientes de acordo com os critérios de TGK, TGR e TTF. A doença hiperprogressiva que atendeu a ambos os critérios de TGK e TGR foi associada com pior sobrevida livre de progressão (razão de risco [HR], 4.619; intervalo de confiança [IC] 95%, 2.868-7.440) e pior sobrevida global (HR, 5.079; IC 95%, 3.136- 8,226) do que a doença progressiva sem características de HPD. Não houve relação clara entre as variáveis ​​clinicopatológicas e HPD.

Na análise de potenciais biomarcadores a partir dos linfócitos T CD8 + do sangue periférico, foi observada menor frequência de subgrupos efetores e de memória (células T CCR7-CD45RA-T) e maior frequência de populações severamente exauridas (células TIGIT + T entre PD-1 + Células T CD8 +), características associadas com HPD e taxa de sobrevida inferior.

Para os autores, os achados permitem concluir que a doença hiperprogressiva é frequente em pacientes com CPNPC tratados com inibidores de PD-1 / PD-L1 e que os biomarcadores podem prever com sucesso a HPD e piores resultados clínicos, merecendo uma investigação mais aprofundada. 

“Trata-se, portanto, de um estudo bastante relevante, que acena com a possibilidade de encontrarmos os biomarcadores para melhor tratarmos pacientes portadores de CPNPC não somente do ponto de vista médico, mas também evitando gastos desnecessários para os sistemas privado e público”, conclui Clarissa.

Referência: Kim, C. G., Kim, K. H., Pyo, K.-H., Xin, C.-F., Hong, M. H., Ahn, B.-C., … Kim, H. R. (2019). Hyperprogressive disease during PD-1/PD-L1 blockade in patients with non-small-cell lung cancer. Annals of Oncology. doi:10.1093/annonc/mdz123