Onconews - Persistência de HPV e recorrência de NIC em mulheres HIV positivas

Audrey NET OKAté o momento, não havia clara definição se a crioterapia é diferente à conização por bisturi de alta frequência (CAF) quanto ao clareamento da infecção pelo HPV de alto risco e à recorrência de neoplasia intraepitelial cervical (NIC) dentre mulheres HIV positivas. Agora, estudo randomizado comparou CAF e crioterapia realizado no Quênia incluiu 354 mulheres HIV positivas, com HPV de alto risco e NIC 2 ou mais. A análise complementar do trabalho foi publicada em agosto no Jama Oncology. A cirurgiã oncológica Audrey Tsunoda (foto) comenta os resultados.

De junho de 2011 a setembro de 2016, 354 mulheres foram elegíveis e tiveram amostras cervicais de hrHPV coletadas antes e depois do tratamento com crioterapia ou LEEP.  Os dados foram monitorados a cada 6 meses por 24 meses com swab cervical e teste de Papanicolaou com biópsia confirmatória. A análise foi ​​de setembro de 2018 a janeiro de 2021.

Na análise complementar publicada em agosto no Jama Oncology, as mulheres que receberam CAF tiveram probabilidade 40% maior de curar a infecção por hrHPV em comparação com a crioterapia. Além disso, o subgrupo com infecção persistente apresentou 5 vezes mais probabilidade de NIC recorrente.

Resultados

Um total de 354 mulheres HIV-positivas com NIC2 + foram incluídas no estudo, com idade média de 37 e 38 anos (crioterapia vs CAF). A positividade do HPV de alto risco foi definida como 1 dos 12 tipos seguintes: 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 45, 51, 52, 56, 58, 59. A prevalência basal de HPV de alto risco foi de 90% (160 de 177) no braço de crioterapia e de 94% (166 de 177) no braço de CAF (p = 0,24). Os tipos de HPV de alto risco mais frequentemente detectados foram 16 (27%), 58 (27%), 35 (26%), 52 (20%) e 18 (17%). Ao longo de 24 meses, o clareamento do HPV de alto risco foi significativamente maior entre aquelas que realizaram CAF em comparação com a crioterapia (HR 1,40; IC de 95%, 1,03-1,90; p= 0,03).

Na análise multivariada, a persistência específica do tipo de hrHPV em 12 meses de acompanhamento foi significativamente associada com recorrência de NIC2 ou mais (HR ajustada, 4,70; IC de 95%, 2,47-8,95; p <0,001). O desempenho do teste de hrHPV em 12 meses para detectar lesão NIC2 + recorrente foi de 93% de sensibilidade, 46% de especificidade, 38% de valor preditivo positivo e 95% de valor preditivo negativo.

“Nesta análise secundária de um ensaio clínico randomizado, as mulheres HIV-positivas que receberam CAF tiveram maior probabilidade de curar a infecção por HPV de alto risco em comparação com aquelas submetidas à crioterapia, reforçando a eficácia de CAF nesta população. O HPV de alto risco persistente foi significativamente associado a NIC2 + recorrente, sugerindo que os benefícios da CAF podem estar relacionados em parte a sua capacidade de eliminar a infecção por HPV de alto risco. A triagem para infecção por HPV de alto risco após o tratamento entre mulheres HIV-positivas pode ser usada para descartar neoplasia intraepitelial cervical recorrente, dada sua alta sensibilidade e valor preditivo negativo”, destacam os autores.

Audrey observa que quando se considera a heterogeneidade social das populações com lesões precursoras do câncer de colo uterino e os recursos disponíveis em diferentes cenários e países, a crioterapia pode ser uma ferramenta interessante. “Não demanda avaliação anatomopatológica e possibilita um procedimento ablativo de baixo custo e alta eficiência como medida de saúde pública. Entretanto, os procedimentos excisionais são o padrão de tratamento para estas lesões, inclusive por oferecerem a oportunidade de detecção de lesões microinvasivas. Após este estudo,  o CAF permanece o padrão de tratamento das lesões NIC2 ou mais nas mulheres HIV positivas, por aumentar o clareamento do HPV de alto risco e reduzir a recorrência das lesões precursoras. Importante salientar a alta sensibilidade do teste de HPV de alto risco no seguimento destas pacientes”, conclui.

Registro do ensaio na ClinicalTrials.gov: NCT01298596

Referência: Chung MH, De Vuyst H, Greene SA, et al. Human Papillomavirus Persistence and Association With Recurrent Cervical Intraepithelial Neoplasia After Cryotherapy vs Loop Electrosurgical Excision Procedure Among HIV-Positive Women: A Secondary Analysis of a Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. Published online August 05, 2021. doi:10.1001/jamaoncol.2021.2683