Estudo da Agência Internacional para a Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês) buscou avaliar as barreiras ao rastreamento do câncer em 27 países da América Latina e Caribe. O inquérito tem participação do médico brasileiro André Carvalho (foto) e mostra que as barreiras mais frequentes são relacionadas com a eficácia dos serviços. Sistemas de informação, como registros populacionais que dificultam a identificação e o convite da população elegível, também aparecem entre os principais entraves, e mais de 75% dos países relatam a indisponibilidade de serviços.
Para ser eficaz, o rastreamento do câncer deve ser realizado no âmbito de um programa organizado. Através do projeto intitulado Rastreio do Câncer em Cinco Continentes (CanScreen5)/CELAC, a IARC conduziu uma avaliação aprofundada da qualidade e organização de programas de rastreio do câncer na América Latina e Caribe. Os resultados foram publicados em 2023 em relatório que revelou grandes lacunas na organização dos serviços de rastreio do câncer do colo do útero e da mama, com poucos países assumindo sistematicamente o convite para mulheres elegíveis (quatro para o câncer do colo do útero e um para o câncer de mama). O programa de rastreamento do câncer colorretal estava disponível apenas em sete países.
Agora, em inquérito dirigido aos gestores, os participantes foram convidados a descrever as barreiras ao rastreio do câncer nos seus respectivos países e as intervenções baseadas em evidências implementadas para aumentar a participação no rastreio. Um questionário estruturado elaborado com a ferramenta eletrônica de captura de dados REDCap (Research Electronic Data Capture) hospedada na IARC foi utilizado para coletar informações dos participantes.
As barreiras consideraram as seguintes dimensões: disponibilidade de serviços, acesso (abrangendo cobertura e acessibilidade), aceitabilidade, interação usuário-provedor e eficácia dos serviços (que inclui governança, protocolos e diretrizes, sistema de informação e garantia de qualidade). A ferramenta também recolheu informações sobre intervenções em vigor, categorizadas em intervenções dirigidas para aumentar a procura, intervenções dirigidas para aumentar o acesso, intervenções dirigidas aos prestadores e intervenções em políticas e sistemas.
Todos os países priorizaram barreiras relacionadas aos sistemas de informação, como o cadastro populacional não ser preciso ou completo (N = 19; 70,4%). Todos os países implementaram algum tipo de intervenção para melhorar o rastreamento do câncer, sendo a educação em grupo a mais reportada (N = 23; 85,2%). A formação sobre a realização de rastreios foi a intervenção dirigida pelo prestador mais referida (N = 19; 70,4%).
Em síntese, o estudo identificou várias barreiras à implementação do rastreamento do câncer na região, assim como intervenções em vigor para avançar no cumprimento dos objetivos.
Os 27 países participantes do inquérito foram Antígua e Barbuda, Argentina, Bahamas, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Dominica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Honduras, Granada, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Suriname e Uruguai.
A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.
Referência: Mosquera I, Barajas CB, Theriault H, Benitez Majano S, Zhang L, Maza M, Luciani S, Carvalho AL, Basu P. Assessment of barriers to cancer screening and interventions implemented to overcome these barriers in 27 Latin American and Caribbean countries. Int J Cancer. 2024 Apr 22. doi: 10.1002/ijc.34950. Epub ahead of print. PMID: 38648380.