Em um estudo com mais de dez mil pacientes diagnosticados com câncer de mama triplo negativo, pesquisadores identificaram mutações germinativas associadas a maior risco de desenvolver câncer de mama triplo negativo ao longo da vida. “Embora várias associações já tenham sido descritas anteriormente, este é o estudo mais robusto já publicado e confirma associações previamente estabelecidas, além de definir novos genes de risco”, afirma a oncogeneticista Patrícia Prolla (foto), Professora do Departamento de Genética da UFRGS e do Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Os pesquisadores realizaram testes genéticos em 10.901 pacientes com câncer de mama triplo-negativo de duas coortes independentes. Na primeira coorte, os pesquisadores testaram 21 genes de predisposição ao câncer em 8.753 pacientes e na segunda coorte, 17 genes foram avaliados em 2.148 pacientes do Triple Negative Breast Cancer Consortium (TNBCC). Variantes patogênicas germinativas nos genes BARD1, BRCA1, BRCA2, PALB2 e RAD51D foram associadas a alto risco (odds ratio > 5,0) de câncer de mama triplo-negativo, e a um risco 20% maior de desenvolver qualquer subtipo de câncer de mama ao longo da vida em mulheres euro-descendentes. Variantes nos genes BRIP1, RAD51C e TP53 foram associadas com risco moderado (odds ratio> 2) de desenvolver a doença. Tendências semelhantes foram observadas entre pacientes afro-americanas, que representaram cerca de 12% das participantes do estudo.
Embora estudos anteriores tenham encontrado variantes genéticas em BRCA1, BRCA2, BARD1, BRIP1, PALB2 e RAD51C em pacientes com câncer de mama triplo-negativo, a nova pesquisa estabelece a conexão em maior detalhe e identifica dois genes adicionais claramente associados ao triplo-negativo, RAD51D e BARD1, que anteriormente eram considerados apenas associados com câncer de ovário.
“O trabalho de Shimelis e colaboradores estabelece definitivamente a associação entre câncer de mama triplo negativo determinado geneticamente com múltiplos genes além de BRCA1 e BRCA2. Embora o aumento na taxa de casos com uma variante patogênica identificada seja discreto, em relação a testar apenas BRCA1 e BRCA2, ele é significativo e, aliado ao decréscimo do custo do teste genético com painéis multigênicos, justifica a análise de pacientes com esse tipo de tumor utilizando um painel de genes”, afirma Prolla.
Segundo a oncogeneticista, ainda não está claro se o critério NCCN hoje utilizado para análise de BRCA1 e BRCA2 em pacientes triplo-negativas (testar todas com diagnóstico até os 60 anos de idade) se aplica também aos outros genes, e estudos adicionais deverão responder a esta questão. “Os próprios autores sugerem que provavelmente todos pacientes com este tipo específico de câncer de mama, independente da história familiar e idade ao diagnóstico, devam ser testadas com um painel de genes”, diz.
Da mesma forma, embora esteja claro que mutações em diferentes genes predispõe ao câncer de mama triplo-negativo, a biologia da doença pode não ser exatamente a mesma em pacientes com este tumor e portadoras de mutações em genes distintos. Por esse motivo, uma análise futura muito importante será o estudo da resposta a diferentes tipos de tratamento, de acordo com o gene mutado ou ainda o tipo de mutação, mesmo que em um mesmo gene.
“No Brasil, a ANS inclui em seu rol de procedimentos o teste genético para análise de mutações em BRCA1 e BRCA2 em toda mulher com câncer de mama triplo negativo diagnosticado até os 60 anos de idade (assim como os critérios NCCN). Também conforme as diretrizes da ANS, aquelas pacientes sem mutação em BRCA1 e BRCA2, ou com múltiplos critérios para câncer de mama hereditário devem ser testadas com um painel de genes, que hoje já inclui todos os genes estudados por Shimelis, exceto BARD1. As novas evidências publicadas neste artigo poderão contribuir para atualização das diretrizes nacionais”, conclui Patrícia.
Referência: Triple-Negative Breast Cancer Risk Genes Identified by Multigene Hereditary Cancer Panel Testing - Hermela Shimelis, Fergus J Couch et al - JNCI: Journal of the National Cancer Institute, djy106,https://doi.org/10.1093/jnci/djy106 - Published: - 07 August 2018