marianna cancela 22Marianna de Camargo Cancela (foto) e Jonas Eduardo Monteiro, pesquisadores da Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) e da Coordenação de Pesquisa (COPQ) do INCA, são os primeiros autores de estudo publicado no periódico Cancer Epidemiology que estimou os anos potenciais de vida produtiva perdidos (YPPLL) e a produtividade perdida devido a mortes prematuras por câncer entre 2001 e 2015, bem como as projeções para o período entre 2015 e 2030. “Cerca de metade das mortes por câncer no Brasil ocorrem entre indivíduos em antes da idade de aposentadoria (menos de 65 anos para homens, menos de 60 anos para mulheres), resultando em um impacto econômico substancial para o país”, observam os autores.

No estudo, os pesquisadores utilizaram a Abordagem de Capital Humano para estimar as perdas de produtividade correspondentes aos anos potenciais de vida produtiva perdidos (do inglês, YPPLL - years of potential productive life lost) para mortes por câncer em pessoas em idade ativa (15-64 anos). Os dados de mortalidade foram obtidos do Sistema de Informações sobre Mortalidade de 2001 a 2015, e projetados entre 2016 e 2030. Os dados econômicos foram obtidos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua e projetados até 2030. A perda de produtividade foi calculada como o valor monetário decorrente dos anos de vida produtiva potencialmente perdidos em dólar internacional (Int$; 2016).

Resultados 

Entre 2001 e 2030, um total de 2,3 milhões de mortes prematuras por todos os tipos de câncer combinados foram observados e previstos no Brasil (57% homens, 43% mulheres), correspondendo a 32 milhões de YPPLL e Int$ 141,3 bilhões em perdas de produtividade (homens: Int$ 102,5 bilhões, mulheres: Int$ 38,8 bilhões).

Entre 2001 e 2030, entre os homens, a estimativa é que os tumores de pulmão (Int$ 12,6 mil milhões), estômago (Int$ 10,6 mil milhões) e colorretal (Int$ 9,4 mil milhões) sejam os responsáveis pelas maiores perdas de produtividade; entre as mulheres, os principais responsáveis pela perda de produtividade são o câncer de mama (US$ 10,0 bilhões), colo do útero (US$ 6,4 bilhões) e colorretal (US$ 3,2 bilhões).

“Muitos cânceres evitáveis resultam numa elevada perda de produtividade, o que reforça o impacto positivo na economia de medidas para reduzir a prevalência do tabagismo, o consumo de álcool, a inatividade física e a dieta inadequada, além de melhorar os programas de rastreio e aumentar a cobertura vacinal contra o HPV e a hepatite B”, ressaltam os autores.

“Os resultados fornecem uma perspectiva adicional no Brasil para priorizar políticas de controle do câncer e têm o potencial de chamar a atenção para o impacto social do câncer entre os tomadores de decisão e formuladores de políticas em outros países latino-americanos”, concluem.

Referência: De Camargo Cancela M, Monteiro Dos Santos JE, Lopes de Souza LB, Martins LFL, Bezerra de Souza DL, Barchuk A, Hanly P, Sharp L, Soerjomataram I, Pearce A. The economic impact of cancer mortality among working-age individuals in Brazil from 2001 to 2030. Cancer Epidemiol. 2023 Aug 12;86:102438. doi: 10.1016/j.canep.2023.102438.