As neoplasias císticas mucinosas (NCM) do pâncreas expressam receptores hormonais e vários relatos de casos descrevem que NCM aumentam de tamanho durante a gestação e progridem para a degeneração maligna. Estudo multicêntrico que envolveu uma grande coorte de pacientes corrobora dados já reportados na literatura, até então de forma anedótica, confirmando a correlação entre a gestação e NCM perigestacional de alto grau.

Neste estudo, liderado por pesquisadores da Mayo Clinic, foram incluídas pacientes do sexo feminino submetidas à ressecção pancreática de NCM entre 2011 e 2021. NCM ressecados ou diagnosticados dentro de 12 meses do período gestacional foram definidos como perigestacionais. NCM com displasia de alto grau ou componente invasivo foram classificados no grupo de alto grau (AG). O endpoint primário foi a correlação entre NCM perigestacional e o desenvolvimento de NCM-AG.

Os resultados foram relatados por Fogliati et al. na Pancreatology. A base de análise incluiu 176 pacientes, sendo 25 (14%) do grupo AG e 151 (86%) do grupo de baixo grau (BG). Os grupos de BG e AG tiveram uma distribuição semelhante quanto ao uso de contraceptivos sistêmicos (26% vs. 16%, p = 0,262) e NCM perigestacional (7% vs. 16%, p = 0,108). Na análise univariada, o tamanho do cisto ≥10 cm (OR 5,3, p < 0,001) foi associado à degeneração de AG. Os autores descrevem que NCM perigestacional correlacionou-se positivamente com o tamanho do cisto (R = 0,18, p = 0,020). No subgrupo de 14 pacientes com NCM perigestacional, 29% tiveram NCM-AG e 71% apresentaram crescimento de cisto durante a gestação, com crescimento médio de 55,1 ± 18 mm.

“NCM perigestacionais estão associadas ao aumento do diâmetro do cisto e no subgrupo de pacientes afetados por NCM durante a gestação foi observada alta taxa de crescimento”, concluem os autores, recomendando que pacientes com NCM e desejo de engravidar devem ser submetidas a aconselhamento multidisciplinar.

Os resultados obtidos por este estudo confirmam que na NCM o tamanho do cisto é o mais importante preditor de degeneração maligna e foi a única variável significativamente associada à degeneração de alto grau nessa grande coorte de pacientes.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.

Referência: https://doi.org/10.1016/j.pan.2024.04.009