Análise que envolveu uma grande coorte de pacientes com câncer de mama receptor hormonal negativo e HER2 positivo sugere que uma estratégia baseada em ressonância magnética (RM) pode desintensificar a quimioterapia (QT) neoadjuvante. Os resultados foram publicados no Lancet Oncology e mostram que 87% daqueles com resposta radiológica completa na RM após QT neoadjuvante tiveram resposta patológica completa. Se confirmados na análise de sobrevida livre de eventos, esses dados indicam que um em cada três pacientes poderia ser tratado com apenas três ciclos de QT neoadjuvante.

Neste estudo de fase II de braço único (TRAIN-3), realizado em 43 hospitais da Holanda, foram incluídos pacientes adultos (≥ 18 anos) com câncer de mama HER2 positivo em estágio II-III e status de desempenho da OMS de 0 ou 1. Os pacientes receberam quimioterapia (QT) neoadjuvante com paclitaxel (80 mg/m2 de área de superfície corporal nos dias 1 e 8 de cada ciclo de 21 dias), trastuzumabe (8 mg/kg de peso corporal no dia 1 do ciclo 1 e depois 6 mg/kg  no dia 1 em todos os ciclos subsequentes) e carboplatina (área sob a curva 6 mg/mL por min no dia 1 de cada ciclo de 3 semanas) e pertuzumabe (840 mg no dia 1 do ciclo 1  e depois 420 mg no dia 1 de cada ciclo subsequente), todos administrados por via intravenosa. A resposta foi monitorada por ressonância magnética de mama a cada três ciclos e biópsia de linfonodos.

Os pacientes foram submetidos à cirurgia quando foi observada resposta radiológica completa ou depois de até nove ciclos de tratamento. O endpoint primário foi a sobrevida livre de eventos em 3 anos. O acompanhamento do endpoint primário está em andamento.

Nesta análise, van der Voort e colegas apresentam as taxas de resposta radiológica e patológica (endpoints secundários) de todos os pacientes submetidos à cirurgia e os dados de toxicidade de todos os pacientes que receberam pelo menos um ciclo de tratamento.

Entre 1º de abril de 2019 e 12 de maio de 2021, foram inscritos 235 pacientes com câncer de mama com receptor hormonal negativo e 232 com receptor hormonal positivo. O seguimento mediano foi de 26,4 meses (IQR 22,9–32,9) para pacientes com receptores hormonais negativos e de 31,6 meses (25,6–35,7) para pacientes com receptores hormonais positivos.

Em 233 pacientes com tumores negativos para receptores hormonais com dados disponíveis para análise, os pesquisadores observaram resposta radiológica completa em 84 (36%; IC 95% 30–43) pacientes após um a três ciclos, em140 (60%; 53–66) pacientes após um a seis ciclos e em169 (73%; 66–78) pacientes após um a nove ciclos.

Em 232 pacientes com tumores positivos para receptores hormonais, foi observada resposta radiológica completa em 68 (29%; 24–36) pacientes após um a três ciclos, em 118 pacientes (51%; 44–57) após um a seis ciclos e em 138 pacientes (59%; 53–66) após um a nove ciclos.

Entre os pacientes com resposta radiológica completa após um a nove ciclos, a resposta patológica completa foi observada em 147 (87%; IC 95% 81-92) de 169 pacientes com tumores com receptores hormonais negativos e em 73 (53%; 44–61) de 138 pacientes com tumores positivos para receptores hormonais.

Este ensaio está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT03820063.

Os eventos adversos de grau 3–4 mais comuns foram neutropenia (175 [37%] de 467), anemia (75 [16%]) e diarreia (57 [12%]). Nenhuma morte relacionada ao tratamento foi relatada.

“Em nosso estudo, um terço dos pacientes com câncer de mama em estágio II-III negativo para receptor hormonal e HER2 positivo tiveram resposta patológica completa após apenas três ciclos de terapia sistêmica neoadjuvante”, destacam os autores. “Uma resposta completa na ressonância magnética das mamas poderia ajudar a identificar respostas completas precoces em pacientes cujos tumores têm receptores hormonais negativos. Uma estratégia baseada em imagens poderia limitar a duração da quimioterapia nesses pacientes, reduzir os efeitos colaterais e manter a qualidade de vida, se confirmada pela análise do endpoint primário de sobrevida livre de eventos em 3 anos”, analisam.

Referência: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(24)00104-9