A radioterapia parcial da mama e a dose reduzida melhoram a qualidade de vida de pacientes tratadas para o câncer de mama com cirurgia conservadora. Os dados vêm de nova análise do estudo IMPORT LOW, apresentados na 11ª European Breast Cancer Conference, em Barcelona. “A atualização do IMPORT LOW reforça o conceito de que hipofracionamento em mama – quando o tratamento irradiante é realizado em 15 ou 16 frações – é seguro e eficaz, conforme as recentes publicações de longo prazo e o guideline da Sociedade Americana de Radioterapia (ASTRO). Além disso, acrescenta que a irradiação parcial da mama não só é segura, como permite reduzir os efeitos colaterais cosméticos de longo prazo”, afirma o rádio-oncologista Rodrigo Hanrot (foto), coordenador do serviço de Radioterapia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Os resultados apresentados avaliaram os efeitos colaterais que afetam a mama e a imagem corporal cinco anos após a radioterapia e mostram que mais da metade das pacientes no estudo não relatou efeitos colaterais de longo prazo.
O estudo IMPORT LOW recrutou mulheres ≥50 anos após a cirurgia conservadora da mama para carcinoma ductal invasivo com margens de ressecção pT≤3cm, pN0-1, G1-3 e ≥2mm. As pacientes foram randomizadas para receber radioterapia padrão na dose de 40 Gy em toda a mama (grupo controle), 36 Gy para toda a mama e 40 Gy para a parte da mama que continha o tumor original (grupo de dose reduzida), ou 40 Gy apenas para o local do tumor original (grupo de RT parcial). As pacientes receberam radioterapia de intensidade modulada (IMRT) em 15 frações diárias de tratamento.
O foi conduzido em um subgrupo planejado de > 50% dos pacientes do estudo. As pacientes completaram o questionário central EORTC QLQ-C30, módulo de câncer de mama QLQ-BR23, Body Image Scale, itens específicos do protocolo e Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão no baseline, aos 6 meses, 1, 2 e 5 anos após a radioterapia.
Mais da metade das mulheres (1265) participaram da análise que considerou os resultados relatados pelos pacientes (PROMs). Os dados foram coletados no início do estudo (baseline), aos seis meses e um, dois e cinco anos após a radioterapia. Foram avaliados o status global de saúde/qualidade de vida (QV) e os padrões de relatos de eventos adversos como endurecimento dos tecidos, dor, hipersensibilidade da área tratada e acumulação de fluido.
O evento adverso mais relatado foi a “mudança geral na aparência da mama”. No geral, o número de eventos adversos relatados diminuiu ao longo do tempo, sendo significativamente menor nos grupos de mama parcial e dose reduzida versus o grupo controle (p <0,001).
As mulheres mais propensas a relatar efeitos adversos foram mais jovens, com maior volume mamário, submetidas a ressecções mais extensas, com comprometimento linfonodal e àquelas com ansiedade ou depressão no baseline. Esta nova análise mostra que pacientes que necessitam de radioterapia total podem ter certeza sobre o baixo risco de efeitos colaterais que afetam a cosmética da mama e a imagem corporal. Os dados podem contribuir para melhorar a tomada de decisões.
“Esse conhecimento pode ser discutido com as pacientes, modificar o tratamento e permitir que os médicos implementem um acompanhamento mais personalizado e frequente, se necessário. Por exemplo, pacientes com níveis mais altos de ansiedade e depressão podem receber apoio psicossocial no início do tratamento, embora não saibamos, a partir deste estudo, se isso reduziria o relato de efeitos colaterais”, afirmaram os autores.
“A possibilidade de redução dos efeitos colaterais estéticos, enquanto mantendo o controle da doença, torna esta alternativa muito atraente para nossa realidade. Apesar de tecnicamente necessitar de técnica de IMRT (disponível no ROL da ANS somente para tumores de cabeça e pescoço) e acrescentar novo hábito para os mastologistas – inserir clipes cirúrgicos no leito da lesão ressecada, trata-se de tecnologia bastante disponível no Brasil”, conclui o especialista.
O estudo IMPORT LOW foi patrocinado pelo Institute of Cancer Research e foi financiado pelo Cancer Research UK.
Referência: A longitudinal analysis of patient reported outcomes over 5 years in the IMPORT LOW (partial breast radiotherapy after breast conservation surgery) phase III randomised controlled trial