Estudo publicado online na Pancreatology destacou a incidência do câncer de pâncreas e a mortalidade pela doença em 36 países europeus e suas correlações com indicadores de cuidados de saúde. Os resultados mostram que o acesso à saúde e a prestação de cuidados de alta qualidade são determinantes na incidência e, mais ainda, na mortalidade por câncer pancreático.
Estimativas indicam que o número de casos de câncer vai duplicar na próxima década, principalmente em consequência das rápidas transições sociais e econômicas. O câncer de pâncreas ilustra claramente esse cenário, considerando que a evolução da incidência reflete alterações nos fatores de risco, incluindo tabagismo, consumo de álcool, obesidade e inatividade física, agravados pelo aumento da expectativa de vida.
Para estabelecer a ligação de padrões geográficos e temporais de incidência e mortalidade por câncer de pâncreas, os pesquisadores consultaram as bases de dados da Carga Global de Doenças (GBD, de Global Burden of Disease) e do Eurostat, no período de 2004 a 2019. A incidência e a mortalidade foram padronizadas por idade. Do Eurostat foram extraídos indicadores sobre despesas, camas hospitalares, tecnologia médica, pessoal de saúde, médicos por tipo de especialidade e necessidades não satisfeitas de exames médicos.
Alessandro Cucchetti e colegas descrevem que a incidência do câncer de pâncreas aumentou +0,6% ao ano (p = 0,001) e a mortalidade +0,3% (p = 0,001), sendo crescente para a maioria dos países europeus considerados na análise. A incidência e a mortalidade foram fortemente correlacionadas (p = 0,001).
O aumento das despesas correntes de saúde, as despesas com cuidados de internação, o número de camas disponíveis, o número de tomografias computorizadas, unidades de ressonância magnética e médicos em exercício estiveram todos relacionados com a maior incidência (p < 0,05), enquanto a necessidade não satisfeita de exames médicos foi relacionada com a menor incidência. Quando tratado o efeito mediador da incidência, Cucchetti e colegas apontam que esses indicadores, juntamente com os gastos com cuidados ambulatoriais, o número de tomógrafos e de equipamentos de radioterapia, foram relacionados com menor mortalidade (p < 0,05).
“O ambiente de cuidados de saúde correlaciona-se com a incidência e mortalidade de câncer de pâncreas”, analisam os autores. “Isto reforça o fato de as sociedades com melhor perfil socioeconômico sofrerem de uma incidência mais elevada de câncer pancreático, mas com mortalidade mais baixa”, destacam, acrescentando que a maior capacidade de diagnóstico desses países concorre para um possível viés epidemiológico.
Referência: https://doi.org/10.1016/j.pan.2023.09.001