Estudo que aproveitou dados clinicopatológicos e lâminas histológicas de uma grande série de casos de câncer endometrial (GOG-210) buscou avaliar se tumores mistos de células claras/endometrioide e de células claras/seroso diferem do carcinoma de células claras puro quanto ao padrão inicial de disseminação e na sobrevida do paciente. José Carlos Sadalla (foto) analisa os resultados.
O carcinoma de células claras é um subtipo de câncer endometrial de alto risco. Algumas pacientes apresentam uma mistura de carcinoma de células claras com outros tipos histológicos (endometrioide ou seroso) ou não podem ser claramente atribuídas a um desses tipos. O protocolo GOG-8032 dentro do GOG-210 foi projetado para determinar os subtipos histológicos de câncer endometrial e correlacioná-los com os resultados clínicos.
Os autores descrevem que o termo “misto” foi aplicado a tumores com múltiplos componentes identificáveis, e o termo “indeterminado” foi aplicado a tumores com características intermediárias entre diferentes tipos histológicos. Trezentas e onze mulheres com carcinoma de células claras puro, misto ou indeterminado foram identificadas em uma coorte maior de pacientes submetidas a histerectomia por câncer endometrial no GOG-210. As lâminas histológicas foram revisadas centralmente por patologistas especialistas. Dados iniciais e de acompanhamento foram analisados.
Os resultados relatados na Gynecologic Oncology mostram que 136 pacientes apresentavam carcinoma de células claras puro e 175 apresentavam padrão misto ou indeterminado. As características clinicopatológicas basais foram semelhantes, exceto por uma pequena diferença na idade de apresentação. A análise de sobrevida univariada confirmou a importância dos fatores prognósticos típicos do câncer endometrial. Pacientes nas categorias mistas tiveram sobrevida global e livre de doença semelhantes àquelas com carcinoma de células claras puro, mas o grupo indeterminado de células claras/endometrioide teve maior sobrevida.
“No câncer endometrial de células claras, a presença de um componente endometrioide ou seroso não se correlacionou com diferença significativa no prognóstico. Pacientes cujos tumores apresentavam características de células claras indeterminadas tiveram melhor prognóstico. Alguns desses tumores podem ser tumores endometrioides que mimetizam carcinoma de células claras”, concluem os autores.
“O câncer de endométrio de células claras é raro e o trabalho em questão aponta características que antes pensávamos que se traduzisse em pior prognóstico (tipo misto era associado à pior desfecho). Este trabalho não mostrou isso e até colocou que o padrão indeterminado tem melhor prognóstico. Resumindo, acredito ser relevante esta informação na OncoNews”, analisa José Carlos Sadalla, titular do Núcleo de Cirurgia Oncológica - Mastologia e Ginecologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e do Hospital Sírio-Libanês, também médico do setor de ginecologia oncológica do ICESP (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo).
Referência: https://doi.org/10.1016/j.ygyno.2023.08.005