Primeira avaliação do câncer de tireoide em pequenas áreas do Estado de São Paulo mostrou um gradiente claro e gradual da incidência de câncer de tireoide conforme o status socioeconômico na cidade de São Paulo. Os resultados são de estudo publicado no Endocrine Practice, periódico na Associação Americana de Endocrinologia Clínica. O pesquisador Adeylson Guimarães Ribeiro (foto) é o primeiro autor do trabalho.
Neste estudo, os pesquisadores buscaram comparar os perfis de incidência e mortalidade do câncer de tireoide em algumas regiões do Estado de São Paulo por nível socioeconômico.
Os dados dos casos de câncer de tireoide diagnosticados entre 2003 e 2017 na Região de Barretos e entre 2001 e 2015 no município de São Paulo foram obtidos dos respectivos registros oncológicos. Os dados correspondentes de óbitos foram obtidos de um banco de dados do governo público brasileiro. Taxas padronizadas por idade foram calculadas e apresentadas como mapas temáticos. As taxas também foram calculadas pelo nível socioeconômico e a autocorrelação espacial foi avaliada por índices global e local.
Resultados
Houve 419 casos de câncer de tireoide e 21 mortes na região de Barretos, contrastando com a populosa São Paulo, com 30.489 casos e 673 mortes. As taxas gerais de incidência em São Paulo (15,9 por 100 mil pessoas-ano) foram três vezes maiores que em Barretos (5,7), e as taxas de incidência em mulheres foram quase cinco vezes maiores em Barretos e quatro vezes maiores em São Paulo quando comparada aos homens. As taxas de mortalidade foram, em termos relativos, muito baixas em ambas as regiões.
Um claro gradiente gradual de aumento da incidência de câncer de tireoide com o aumento do nível socioeconômico foi observado na cidade de São Paulo, com taxas em distritos de nível socioeconômico muito alto quatro vezes maiores em comparação com distritos de nível baixo (31,6 vs. 8,1), com a detecção de um aglomerado espacial de alta incidência na região mais rica da cidade. Em contrapartida, as taxas de mortalidade em São Paulo foram semelhantes entre distritos com maior e menor desenvolvimento (0,3 vs. 0,4). Em Barretos, as taxas de incidência e mortalidade por câncer de tireoide apresentaram pouca variação entre os níveis socioeconômicos na região.
“Os padrões de incidência divergentes entre as duas regiões provavelmente refletem uma maior investigação diagnóstica da glândula tireoide na capital. É provável que o sobrediagnóstico seja responsável por uma grande proporção de casos de câncer de tireoide na cidade de São Paulo – especialmente entre os mais ricos – ressaltando a necessidade de reavaliar as práticas de diagnóstico, dados os danos potenciais”, concluíram os autores.
Ribeiro observa que a incidência de câncer de tireoide na cidade de São Paulo (15,9) é mais de três vezes a incidência mundial (4,8), conforme estimativas da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), e mais de duas vezes a incidência nacional (6,6), segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA). “Uma elevada proporção dos casos em São Paulo provavelmente foi resultado da alta acessibilidade à exames diagnósticos em regiões mais desenvolvidas, levando ao sobrediagnóstico. E quando falamos em sobrediagnóstico, estamos nos referindo a tumores que se não detectados, não provocariam sintomas ou a morte de um indivíduo ao longo da sua vida”, destaca Ribeiro.
Referência: Ribeiro AG, Ferlay J, Vaccarella S, Latorre MDRDO, Tavares Guerreiro Fregnani JH, Bray F. Thyroid cancer incidence and mortality by socioeconomic level in the State of São Paulo, Brazil 2001-17. Endocr Pract. 2023 Aug 1:S1530-891X(23)00504-9. doi: 10.1016/j.eprac.2023.07.028. Epub ahead of print. PMID: 37536501.
