Francisco Pimentel (foto), mastologista na Hospital Geral de Fortaleza (HGF), é primeiro autor de estudo publicado no periódico Plastic and Reconstrutive Surgery – Global Open, que avaliou como o tipo de incisão (inframamária ou periareolar) afeta as taxas de complicações precoces na mastectomia preservadora de mamilo seguida de reconstrução imediata.
“A mastectomia preservadora de mamilo (do inglês, NSM - Nipple-sparing mastectomy), usada de forma terapêutica ou profilática, pode causar mais complicações do que a mastectomia convencional. A incisão pode afetar o resultado estético e as taxas de complicações, sendo as incisões periareolares associadas à necrose do complexo areolopapilar (NAC)”, observam os autores.
No estudo, as complicações precoces foram comparadas entre mastectomia preservadora de mamilo realizadas entre 2015–2022 usando sulco inframamário (IMF) ou incisões periareolares.
Resultados
No geral, foram incluídos 180 procedimentos em 152 pacientes (NSM bilateral = 28; IMF = 104; periareolar = 76). A mediana de idade (47 versus 43,9 anos; P < 0,038), peso da mastectomia (312,7 versus 246,8 gramas; P < 0,001), volume do implante (447,5 versus 409,0 mL; P = 0,002) e uso de expansores de tecido (68,4% versus 50,0%; P = 0,013) foram maiores com incisões periareolares. A reconstrução pré-peitoral foi mais comum com IMF (18,3% versus 3,9%; P = 0,004).
Foram registradas 43 complicações (23,9%) (periareolar n = 27, 35%; FMI n = 16, 15,3%; P = 0,0002). A necrose do complexo areolopapilar foi responsável por 17 complicações (22,4%) no grupo periareolar versus nove (8,5%) no grupo IMF (P = 0,002), sendo predominantemente moderada (n = 6, 8,3% versus n = 1, 1,0%, respectivamente; P = 0,014). Odds ratios (OR) não ajustadas para complicações [3,05; 95% CI: 1,27–7,26] e necrose (3,04; 95% CI: 1,27–7,27) foram maiores no grupo periareolar. Na análise multivariada, a necrose esteve associada às incisões periareolares [odds ratio ajustado (aOR): 2,92; 95% CI: 1,14–7,44].
A reconstrução pré-peitoral foi associada a incisões do IMF (aOR: 25,51; 95% CI: 3,53–184,23; P = 0,001) e com índice de massa corporal superior a 25–30 (aOR: 37,09; 95% CI: 5,95–231,10; P < 0,001). Mastectomias terapêuticas (aOR: 68,56; 95% CI: 2,50–188,36; P = 0,012) e expansores teciduais (aOR: 18,36; 95% CI: 1,89–178,44; P = 0,026) foram associadas a seromas.
Em síntese, as incisões periareolares foram associadas a uma maior taxa de complicações em comparação com as incisões do sulco inframamário, basicamente devido à necrose predominantemente leve a moderada do complexo areolopapilar. “Ambas as abordagens são opções viáveis para mastectomia preservadora de mamilo terapêutica ou profilática, independentemente do tipo de reconstrução mamária baseada em implantes. Ao planejar a mastectomia preservadora de mamilo, a decisão de utilizar uma incisão periareolar deve ser tomada com cautela. Mais estudos são necessários para aumentar a compreensão das complicações decorrentes deste procedimento cirúrgico”, concluíram os autores.
Além de Pimentel, o estudo teve participação dos mastologistas brasileiros Ticiane Lima, Ryane Alcantara, Amanda Cardoso e Flora Ulisses, do Hospital Geral de Fortaleza; Guilherme Novita, do Instituto Oncoclínicas (São Paulo); Felipe Zerwes, da PUC-RS; e Eduardo Millen, do Instituto Oncoclínicas (Rio de Janeiro).
Referência: Cavalcante, Francisco P. MD*; Lima, Ticiane O. MD*; Alcantara, Ryane MD*; Cardoso, Amanda MD*; Ulisses, Flora MD*; Novita, Guilherme MD†; Zerwes, Felipe PhD‡; Millen, Eduardo PhD§. Inframammary versus Periareolar Incision: A Comparison of Early Complications in Nipple-sparing Mastectomy. Plastic & Reconstructive Surgery-Global Open 11(11):p e5367, November 2023. | DOI: 10.1097/GOX.0000000000005367