Onconews - Inibidor de MET e de VEGFR2 no osteossarcoma e no sarcoma de Ewing

rodrigo munhoz NET OKPacientes com sarcoma de Ewing ou osteossarcoma avançado/recidivado têm sobrevida global mediana inferior a 12 meses após o diagnóstico e uma estratégia de tratamento padrão ainda não foi estabelecida. Agora, resultados promissores do inibidor de MET e de VEGFR2 cabozantinibe foram reportados nessa população de pacientes, em artigo no Lancet Oncology. Quem comenta é Rodrigo Munhoz (foto), oncologista do Icesp e do Hospital Sírio-Libanês.

“Pacientes com Sarcoma de Ewing avançado ou osteossarcoma representam subgrupos extremamente desafiadores, de mau prognóstico e com opções terapêuticas limitadas, sobretudo após falha à primeira linha com quimioterapia citotóxica usual. O estudo de cabozantinibe reforça um possível papel para uso de terapia-alvo nesse contexto, somando-se às evidências para uso do pazopanibe e regorafenibe, por exemplo”, esclarece Munhoz.

Este estudo de fase 2 multicêntrico, de braço único, incluiu pacientes com sarcoma de Ewing avançado ou osteossarcoma recrutados em 10 centros do grupo francês de sarcoma. Os pacientes receberam cabozantinibe (adultos 60 mg, crianças [<16 anos] 40 mg/m2) por via oral uma vez ao dia em ciclos de 28 dias até a progressão da doença, toxicidade inaceitável, decisão do investigador ou retirada do participante. O desfecho primário para sarcoma de Ewing foi a melhor resposta objetiva dentro de 6 meses após o início do tratamento; para osteossarcoma foram avaliados dois desfechos coprimários: resposta objetiva aos 6 meses e não progressão aos 6 meses. Todos os pacientes que receberam pelo menos uma dose de cabozantinibe foram incluídos na análise de segurança e todos os participantes que receberam pelo menos um ou dois ciclos de tratamento completos ou incompletos foram incluídos na análise de eficácia.

Resultados

Entre 16 de abril de 2015 e 12 de julho de 2018, 90 pacientes (45 com sarcoma de Ewing, 45 com osteossarcoma) foram recrutados para o estudo. O acompanhamento médio foi de 31,3 meses (IC95% 12,4-35,4) para pacientes com sarcoma de Ewing e 31,1 meses (24,4-31,7) para pacientes com osteossarcoma.

Trinta e nove (87%) pacientes com sarcoma de Ewing e 42 (93%) pacientes com osteossarcoma foram avaliados quanto à eficácia após revisão histológica e radiológica. Em pacientes com sarcoma de Ewing, dez (26%; IC95% 13-42) dos 39 pacientes tiveram resposta objetiva em 6 meses, todas respostas parciais; nos pacientes com osteossarcoma, cinco (12%; 4-26) dos 42 pacientes tiveram resposta objetiva (todas respostas parciais) e 14 (33%; 20-50) não apresentaram progressão aos 6 meses.

Em relação ao perfil de segurança, os eventos adversos de grau 3 ou 4 mais frequentes foram hipofosfatemia (cinco [11%] para sarcoma de Ewing, três [7%] para osteossarcoma), aumento de aspartato aminotransferase (dois [4%] para sarcoma de Ewing, três [7%] para osteossarcoma ), síndrome palmar-plantar (três [7%] para sarcoma de Ewing, dois [4%] para osteossarcoma), pneumotórax (um [2%] para sarcoma de Ewing, quatro [9%] para osteossarcoma) e neutropenia (dois [4%] para sarcoma de Ewing, quatro [9%] para osteossarcoma). Pelo menos um evento adverso grave foi relatado em 61 (68%) dos 90 pacientes. Nenhum paciente morreu de efeitos tóxicos relacionados ao medicamento.

A conclusão do estudo indica que cabozantinibe possui atividade antitumoral em pacientes com sarcoma de Ewing e osteossarcoma avançados, e geralmente foi bem tolerado. Para os autores, esses achados mostram que cabozantinibe pode representar uma nova opção terapêutica nesse cenário e merece investigação mais aprofundada.

Para Munhoz, em um cenário de eficácia marginal das opções atualmente disponíveis, a atividade do cabozantinibe deve ser valorizada. “Todavia, as taxas de resposta de 12-26%, com mais da metade dos pacientes com progressão em menos de 6 meses, reforçam o conceito de que mais avanços são necessários para viabilizar uma nova realidade a esses pacientes, e que mais estudos são necessários para definir a melhor estratégia de tratamento de resgate”, conclui.

Este estudo está registrado no ClinicalTrials.gov: NCT02243605.

Referência: Italiano, A., Mir, O., Mathoulin-Pelissier, S., Penel, N., Piperno-Neumann, S., Bompas, E., … Blay, J.-Y. (2020). Cabozantinib in patients with advanced Ewing sarcoma or osteosarcoma (CABONE): a multicentre, single-arm, phase 2 trial. The Lancet Oncology. doi:10.1016/s1470-2045(19)30825-3