Nova análise do estudo MINDACT comparou docetaxel-capecitabina com um regime baseado em antraciclina como tratamento adjuvante em pacientes com câncer de mama inicial de alto risco clínico e genômico. Os resultados foram publicados no Journal of Clinical Oncology. O oncologista Evandro de Azambuja (foto), chefe da Equipe de Suporte Médico no Instituto Jules Bordet, em Bruxelas, Bélgica, analisa os resultados.
A quimioterapia adjuvante tem sido associada a importantes efeitos adversos tanto de curto como a longo prazo, como a leucemia relacionada ao uso de antraciclinas e a toxicidade cardíaca. É nesse contexto que melhores avaliações prognósticas crescem como opção para refinar a seleção de pacientes e identificar indivíduos que efetivamente podem obter benefício da quimioterapia adjuvante.
O ensaio EORTC 10041 / BIG 03-04 (MINDACT) foi o primeiro estudo randomizado de fase III a fornecer evidências de nível 1A sobre a utilidade clínica da assinatura gênica (MammaPrint) para refinar a seleção de pacientes com câncer de mama para quimioterapia adjuvante. Os resultados mostraram que 46% das pacientes com câncer de mama de alto risco por critérios clínicos, mas de baixo risco com base no MammaPrint, podem evitar com certa segurança a quimioterapia adjuvante. Agora, nessa publicaçao recente, dados da segunda randomização foram apresentados. Nesse caso, o MINDACT mostra os resultados dos pacientes que foram randomizados para docetaxel-capecitabina (DC) contra um regime baseado em antraciclina nessa população de pacientes.
Embora a quimioterapia à base de antraciclina, na década de 1990, com a adição subsequente de taxanos no final dos anos 2000 tenham se tornado padrão no tratamento adjuvante, a pequena magnitude do benefício em alguns subgrupos e o risco associado tem sido repetidamente questionado.
Neste estudo, os pacientes elegíveis foram randomizados 1:1 para receber o regime padrão à base de antraciclina, com ou sem taxanos (controle), ou o regime experimental com docetaxel 75 mg / m2 por via intravenosa mais capecitabina oral 825 mg / m2 duas vezes por dia durante 14 dias (DC), a cada 3 semanas por 6 ciclos. O endpoint primário foi a sobrevida livre de doença (SLD). Endpoints secundários incluíram sobrevida global e dados de segurança.
Essa populaçao é composta de 60% pacientes com alto risco clinico e genomico, 69.9% linfonodo negativo, 74.7% receptor hormonal positivo. Aos 5 anos de acompanhamento mediano, a SLD não foi diferente entre DC (n = 652) e controle (n = 649), com 90,7% versus 88,8% [HR], 0,83 [IC 95%, 0,60 a 1,15]; P = 0,26).
A sobrevida global (HR, 0,91 [IC 95%, 0,54 a 1,53]) e a SLD no subgrupo de alto risco clínico e alto risco genômico (86,1% vs 88,1%; HR 0,83 [IC 95%, 0,58 a 1,21]) foram semelhantes nos dois braços.
Em relação ao perfil de segurança, o regime DC levou a mais neuropatia de grau 1 (27,1% vs 11,2%), mais ocorrência de síndrome de mão / pé de grau 2 (28,5% v 3,3%) e diarreia (13,7% v 5,8%). Eventos cardíacos graves ocorreram em 9 pacientes (controle, n = 4; DC, n = 5). Cinquenta e três pacientes desenvolveram segundo câncer (controle, n = 32; DC, n = 21; leucemia: 2 v 1). Ocorreram cinco mortes relacionadas ao tratamento (controle, 2 [0,3%]; DC, 3 [0,5%]).
Segundo Azambuja, mesmo que essa segunda randomização no MINDACT não tenha demonstrado nenhuma melhora no resultado ou na segurança com o uso de DC em comparação à quimioterapia baseada em antraciclina, esse estudo não tem o poder estatístico suficiente para tirar conclusões devido ao baixo número de eventos ocorridos no estudo (148 dos 422 necessarios). “Docetaxel-capecitabina se mostrou mais tóxico e não deve ser a primeira escolha para os pacientes, mas pode ser uma alternativa em caso de contraindicação às antraciclinas”, conclui.
Referência: Delaloge, S., Piccart, M., Rutgers, E., Litière, S., van ’t Veer, L. J., … van den Berkmortel, F. (2020). Standard Anthracycline Based Versus Docetaxel-Capecitabine in Early High Clinical and/or Genomic Risk Breast Cancer in the EORTC 10041/BIG 3-04 MINDACT Phase III Trial. Journal of Clinical Oncology, JCO.19.01371. doi:10.1200/jco.19.01371