Onconews - Inovação em linfoma de Hodgkin não é realidade no SUS

Hodgkin_lymphoma__1__mixed_cellulary_type_NET_OK.jpgBrentuximab-vedotina é um conjugado anticorpo-fármaco (CAF), com o nome comercial de Adcetris®, que atua seletivamente nas células tumorais que expressam a proteína CD-30, promovendo a apoptose. O agente recebeu aprovação de diferentes agências reguladoras mundiais, depois que testes de fase II demonstraram sua superioridade como monoterapia em pacientes com linfoma de Hodgkin refratário. Brentuximab-vedotina também tem indicação para tratamento sistêmico de pacientes com linfoma anaplásico de grandes células.

No Brasil, a Anvisa concedeu o registro do Adcetris® em setembro de 2014, mas o medicamento aguarda a avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) e ainda não está disponível para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Pacientes atendidos por planos de saúde já podem receber o novo tratamento, o que ilustra mais um exemplo de profunda iniquidade na assistência oncológica brasileira.

O Linfoma de Hodgkin é descrito como neoplasia hematológica de incidência bimodal, sendo o câncer mais incidente em jovens e adultos jovens, dos 15 aos 30 anos, com um segundo pico a partir da sexta década de vida. A adenomegalia é a queixa mais frequente, com linfonodos duradouros, e entre os sinais clínicos estão emagrecimento, prurido e sudorese noturna. Parcela significativa de pacientes também apresenta esplenomegalia.

O Linfoma de Hodgkin representa 11% de todos os linfomas e 4% de todas as neoplasias. “No mundo, estimam-se 68 mil novos casos diagnosticados por ano”, esclarece Otávio Baiocchi, chefe da disciplina de Hematologia e coordenador do Grupo de Linfomas da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“No Brasil, dados do INCA estimam entre 4,5 mil e 5 mil novos casos de linfoma de Hodgkin a cada ano, com incidência de 1,5 caso para cada 100 mil habitantes na população feminina e 2,3 casos por 100 mil na população masculina ”, acrescenta.

Baiocchi é uma das grandes autoridades no assunto e lembra que cerca de 30% dos pacientes com linfoma de Hodgkin não serão curados com o tratamento padrão instituído como primeira linha. “Quando o paciente progride ou recidiva, as chances de cura já caem para 40% em média, sem considerar os casos de pacientes não elegíveis ao transplante, em que as possibilidades eram praticamente nulas e a mortalidade extremamente alta, mas felizmente esse cenário está mudando”, diz Baiocchi.
É para esse perfil de pacientes que o anti CD-30 brentuximab-vedotina representa hoje a única opção terapêutica capaz de assegurar ganhos significativos de sobrevida livre de progressão.

O hematologista Carlos Chiattone, da Santa Casa de São Paulo, acompanhou de perto o tratamento dos linfomas e fala dos novos paradigmas que têm transformado o cenário terapêutico. “Não há na oncologia avanço maior”, comemora. Mas assegurar o acesso ao diagnóstico oportuno e às melhores opções terapêuticas permanece como um desafio. “Infelizmente isso não é automático. O sistema privado oferece, mas a incorporação no Sistema Único de Saúde  ainda não é uma realidade”, lamenta. “Brentuximab-vedotina não é apenas mais uma droga nova, mas uma droga que se demonstrou efetiva em um cenário sem outras alternativas, para atender pacientes jovens, com 20 anos, 30 anos de idade, com filhos pequenos. Estamos falando de um impacto extremamente relevante nesse subgrupo de pacientes”, conclui.