Onconews - Inovações terapêuticas no mieloma múltiplo

Vania_Hungria1_Baixa.jpgOs anticorpos monoclonais que ajudaram a reconfigurar o tratamento de tumores sólidos mostram também resultados importantes na oncohematologia. Em Mieloma Múltiplo, a inovação vem do anti CD-38 daratumumab, aprovado pelo FDA em monoterapia para pacientes politratados, com base nos dados do estudo de fase II SIRIUS1. Recentemente, daratumumab também apresentou resultados em diferentes regimes de combinação em pacientes recidivados, como demonstrado na análise do estudo CASTOR2 na ASCO deste ano (Daratumumab+Bortezomibe+Dexametasona) e nos dados do POLLUX3 (Daratumumab+Bortezomibe+Dexametasona) apresentados na 21ª edição do encontro anual da EHA. “São resultados muito relevantes”, diz a oncohematologista brasileira, Vânia Hungria (foto), Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 

{jathumbnail off}“No estudo SIRIUS, a taxa de resposta global foi de 29% e 3% dos pacientes alcançaram resposta completa stringent, o que é bastante significativo em pacientes que já receberam múltiplas linhas de tratamento”, esclarece. “Foi o primeiro estudo a demonstrar atividade de um anticorpo monoclonal como monoterapia nesse cenário da doença”, acrescenta.

Agora, dois novos estudos apresentados este ano ampliam o corpo de evidências.
O estudo CASTOR, de fase III, publicado no New England Journal of Medicine2, mostrou a superioridade da combinação de daratumumab, bortezomib e dexametasona (DVd) no mieloma múltiplo recorrente ou refratário (MMRR) comparado ao esquema padrão de bortezomib e dexametasona (Vd).

Vânia Hungria é uma das autoras do CASTOR, estudo multicêntrico que contou com a participação de instituições e pacientes brasileiros, e falou ao Onconews sobre os principais achados da pesquisa e seu impacto na prática clínica.

“Os inibidores de proteassoma em combinação com glucocorticóides fazem parte do regime padrão para o tratamento de pacientes com mieloma múltiplo recorrente ou refratário e têm contribuído significativamente para aumentar a sobrevida nesse cenário da doença. No entanto, parcela significativa dos pacientes vai apresentar recidiva”, explica a oncohematologista.

O CASTOR foi desenhado exatamente para esse grupo de pacientes e concluiu que adicionar daratumumab ao regime padrão tem vantagens no MMRR.

Métodos

Foram inscritos no estudo 498 pacientes de 115 centros em 16 países, randomizados 1:1 para receber DVd (n=251) ou Vd (n=247). Foram considerados elegíveis pacientes submetidos a pelo menos uma linha de tratamento, estratificados de acordo com o estadiamento ISS4 e as terapias anteriores. Os pesquisadores também consideraram se os pacientes haviam recebido ou não tratamento prévio com bortezomibe.

GRAFICO_1N_castor_Study_design__Population_and_Endpoint.jpgOs pacientes no grupo de tratamento DVd receberam 16 mg/kg de daratumumab IV uma vez por semana (dias 1, 8 e 15) durante os primeiros três ciclos; uma vez a cada 3 semanas no primeiro dia dos ciclos de 4 a 8 e depois a cada 4 semanas até a retirada do consentimento, progressão da doença ou toxicidade inaceitável.

Todos os pacientes receberam bortezomibe (1,3 mg/m2 de área corporal) e dexametasona (20 mg, via oral).

O endpoint primário foi sobrevida livre de progressão (SLP). Endpoints secundários incluíram tempo para progressão da doença, taxa de resposta global, resposta parcial, duração de resposta e sobrevida global.

“Com relação às características, os dois braços foram equilibrados, com mediana de 64 anos de idade, e em torno de 45% a 48% dos pacientes tinham realizado pelo menos uma linha de tratamento”, aponta Vânia Hungria.

Resultados

Após um período mediano de acompanhamento de 7,4 meses, a mediana de sobrevida livre de progressão não foi alcançada no grupo tratado com daratumumab e foi de 7,2 meses no grupo controle. A combinação de daratumumab com o regime de tratamento padrão reduziu o risco de progressão ou morte em 61% dos pacientes que receberam pelo menos um tratamento anterior (HR = 0,39; p <0,0001). 

A taxa de resposta global também favoreceu o grupo daratumumab em relação ao grupo controle (82,9% vs 63,2%, P <0,001), assim como as taxas de resposta parcial (59,2% vs. 29,1%, P <0,001) e completa (19,2% vs. 9,0%, P = 0,001). 

“São resultados realmente surpreendentes”, avalia a especialista. “Observamos vantagens no uso do anticorpo daratumumab em todas as análises por subgrupos”, destaca. “Outro aspecto importante é que 5% dos pacientes no braço daratumumab atingiram resposta completa stringent, o que é muito difícil de se atingir em pacientes politratados”, diz.

O perfil de segurança foi consistente com dados já conhecidos de daratumumab em monoterapia. Os eventos adversos de graus 3-4 mais relatados no grupo daratumumab e no grupo controle foram trombocitopenia (45,3% e 32,9%, respectivamente), anemia (14,4% e 16,0%, respectivamente) e neutropenia (12,8% e 4,2%, respectivamente). Reações relacionadas à infusão foram relatadas em 45,3% dos pacientes no grupo daratumumab, sendo a grande maioria só no primeiro ciclo de infusão.

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Daratumumab é um anticorpo monoclonal humanizado IgGκ que tem como alvo a proteína CD-38 e tem demonstrado grande eficácia no tratamento de pacientes com Mieloma Múltiplo, em monoterapia ou em esquemas de combinação, em diferentes cenários de tratamento.
 

Referências:

1. Lonial, Sagar et al.The Lancet , Volume 387 , Issue 10027 , 1551 - 1560

2. Palumbo, A. N Engl J Med 2016.375(8):754-766.

3. Dimopoulos MA, Oriol A, Nahi H, et al. An open-label, randomised phase 3 study of daratumumab, lenalidomide, and dexamethasone (DRF) versus lenalidomide and dexamethasone (RD) in relapsed or refractory multiple myeloma (RRMM): POLLUX. Abstract LB2238. Presented at the EHA 21st Congress, June 10, 2016; Copenhagen, Denmark.

4. Greipp PR, San Miguel J, Durie BG, et al. International staging system for multiple myeloma. J Clin Oncol 2005;23:3412-3420[Erratum, J Clin Oncol 2005;23:6281.] 


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