Dois importantes estudos liderados por pesquisadores brasileiros serão tema de apresentação oral durante a 17ª World Conference of Lung Cancer, em Viena. A presença no programa científico deste ano reflete o interesse de pesquisadores e centros de câncer no Brasil e o entusiasmo diante de uma nova era de seleção terapêutica baseada em perfis moleculares. Exemplo desse olhar renovado, o V Simpósio do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT), realizado dias 4 e 5 de novembro, em São Paulo, reforçou a importância da mudança.
“Temos que desmistificar o câncer de pulmão e mostrar que é possível não apenas aumentar a sobrevida global, mas melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade do paciente”, disse Clarissa Matias, presidente do GBOT e oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB), do Grupo Oncoclínicas. “Se é prematuro falar em cura, já se fala em “cura funcional”, sinaliza.
Para um cenário que historicamente amargava limitadas opções terapêuticas, conhecer o comportamento biológico do câncer de pulmão pode mesmo significar uma verdadeira janela de oportunidades para subrupos específicos de pacientes. “Somos administradores de gangorra”, ilustrou Clarissa, numa comparação entre o necessário equilíbrio entre benefício e toxicidade. Está na hora de deslocar o peso e valorizar os painéis moleculares para selecionar abordagens menos tóxicas e mais eficazes.
O desafio, no entanto, parece esbarrar em diferentes barreiras e provoca igualmente diferentes reflexões. Entre cirurgiões, é bem disseminada a importância da adequada coleta, fixação e clivagem, cumprindo etapas e processos que certamente impactam na análise do patologista? Entre patologistas, é difundida a visão sobre o papel de painéis moleculares em câncer de pulmão? E os gestores da saúde, acompanham essa evolução e estão dispostos a assumir a conta? Sobram reflexões que convidam a refletir se a infraestrutura de assistência oncológica brasileira está preparada para realizar esses painéis moleculares e, antes ainda, que painéis são de fato relevantes.
Quando toda a cadeia de cuidados tem incertezas sobre o acesso e a sustentabilidade das melhores práticas, fica difícil ganhar amplitude. Afinal, que caminhos e possibilidades podem ser explorados? Como take home message, o grande saldo do V Simpósio do GBOT foi despertar reflexões diante de um novo cenário que se apresenta no câncer de pulmão, do rastreamento às inovações terapêuticas, mas questões centrais ainda permanecem sem resposta.