Algorítmos computacionais, deep learning e robôs que analisam grandes conjuntos de dados baseados na extração de registros eletrônicos de saúde. Em artigo no Lancet, Anirban Maitra e Eric Topol descrevem experiências bem-sucedidas que ajudam a entender como a inteligência artificial começa a se mostrar um caminho promissor na vigilância do câncer de pâncreas.
O câncer de pâncreas tem aumentado globalmente e, embora o diagnóstico precoce seja associado a melhores resultados, apenas uma minoria dos casos é diagnosticada em uma fase inicial. Os pesquisadores Anirban Maitra (MD Anderson Cancer Center) e Eric Topol (Scripps Research Translational Institute) lembram que a maior parte dos casos se apresenta em estágios metastáticos avançados, inoperáveis, com pouca resposta à quimioterapia. É nesse contexto que os avanços na inteligência artificial (IA) baseados na extração de registros eletrônicos de saúde (EHR) sinalizam avanços promissores.
“A orientação atual para a vigilância do câncer de pâncreas é restrita a indivíduos de alto risco (HRIs) que apresentam mutações germinativas que predispõem a um risco aumentado de câncer de pâncreas ao longo da vida ou a um forte histórico familiar de câncer de pâncreas. Quando um cisto pancreático é detectado incidentalmente por imagens abdominais, esses pacientes são frequentemente colocados na categoria HRI para vigilância”, descrevem os autores. No entanto, indivíduos de alto risco representam cerca de 20–25% dos casos. E quanto à maioria dos pacientes sem fatores de risco que se apresentam em estágio avançado?” É aqui que os avanços da IA começam a fazer a diferença.
Os autores descrevem exemplos bem-sucedidos da IA na vigilância do câncer de pâncreas, a começar de um modelo de IA liderado por Chris Sander, do MIT e da Harvard Medical School, também pesquisador do Dana-Farber Cancer Institute.
Sander e colegas aplicaram métodos de IA a dados clínicos de 6 milhões de pacientes. Um agregado de 24 mil casos de câncer de pâncreas extraídos do registro nacional da Dinamarca foi analisado e comparado com 11 milhões de pacientes que não desenvolveram a doença. A partir disso, os pesquisadores conseguiram definir um grupo entre indivíduos com 50 anos ou mais que tinham risco 30-60 vezes maior do que a população em geral de serem diagnosticados com câncer de pâncreas. Os resultados geraram um modelo posteriormente validado em mais 3 milhões de pacientes do US Veterans Affairs system, que foi capaz de prever a ocorrência de câncer de pâncreas dentro de 12 meses em indivíduos acima de 50 anos de idade e maior risco.
“Esses resultados melhoram a capacidade de conceber programas de vigilância realistas para pacientes com risco elevado, beneficiando potencialmente a longevidade e a qualidade de vida através da detecção precoce deste câncer agressivo”, destacaram os pesquisadores de Harvard em publicação na Nature Medicine ( https://doi.org/10.1038/s41591-023-02332-5).
Um segundo estudo independente utilizou IA para diferenciar os cerca de 35.000 pacientes que desenvolveram câncer de pâncreas de 1,5 milhões de pessoas sem a doença. “Este estudo identificou mais de 80 características derivadas de EHRs, exames laboratoriais, sintomas, medicamentos e condições coexistentes que definiram risco aumentado. Algumas das características do algoritmo são intuitivas, como idade ou diabetes, enquanto outras sublinham como a IA pode identificar padrões que não são facilmente discerníveis pela avaliação humana (por exemplo, concentração média de hemoglobina corpuscular nos glóbulos vermelhos)”, ilustram Maitra e Topol.
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Referência: Published: April 13, 2024 DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(24)00690-1