Um estudo publicado na Scientific Reports anunciou a descoberta do que está sendo considerado, ainda extraoficialmente, como um ‘novo órgão’. Segundo os autores do trabalho liderado por Neil Theise, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York, o interstício (Interstitium) pode ter implicações importantes para a compreensão sobre o câncer e inúmeras outras doenças. O oncologista Antonio Carlos Buzaid (foto), Diretor Médico Geral do Centro Oncológico da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, comenta a descoberta.
No artigo, os autores explicam que o congelamento do tecido da biópsia antes da fixação preservou a anatomia dessa estrutura, demonstrando que ela é parte da submucosa e um espaço intersticial preenchido com fluido anteriormente não observado, drenado para os linfonodos e sustentado por uma complexa rede de feixes espessos de colágeno. Esses feixes são revestidos de forma intermitente de um lado por células semelhantes a fibroblastos que se mostram coloridos com marcadores endoteliais e vimentina, embora haja uma interface não linear altamente incomum e extensa entre as proteínas da matriz dos feixes e do fluido circundante.
Theise e equipe utilizaram uma nova tecnologia chamada endomicroscopia confocal a laser (pCLE), que fornece imagens histológicas em tempo real de tecidos humanos vivos a uma profundidade de 60 a 70 μm durante a endoscopia. Antes do estudo, dois co-autores estavam examinando os ductos biliares de pessoas com câncer para ver se os tumores tinham ou não sofrido metástases quando se depararam com um tecido entrelaçado, com cavidades cheias de fluido, que não se assemelhava a nenhuma parte anatômica conhecida. Os pesquisadores, então, utilizaram a nova tecnologia para estudar amostras desses tecidos. O pCLE do ducto biliar extra-hepático após a injeção de fluoresceína demonstrou um padrão reticular dentro das fístulas preenchidos com fluoresceína que não tinham correlação anatômica conhecida. “Observamos estruturas semelhantes em numerosos tecidos que estão sujeitos à compressão intermitente ou rítmica, incluindo as submucosas de todo o trato gastrointestinal e da bexiga, a derme, os tecidos moles peribrônquicos e peri-arteriais, e a fáscia”, explicaram os autores.
Theise e colegas ressaltam que essas estruturas anatômicas podem ser importantes na metástase do câncer, no edema, na fibrose e no funcionamento mecânico de muitos ou de todos os tecidos e órgãos. “Descrevemos a anatomia e a histologia de um espaço não-reconhecido previamente, embora generalizado, macroscópico, e cheio de fluido dentro e entre os tecidos, uma nova expansão e especificação do conceito do interstício humano”. “Este paper traz uma explicação para mais um caminho, o interstitium, no processo de metástase, além da tradicional via linfática e sanguínea. Agora parece claro porque tumores pequenos que atingem a submucosa podem ter potencial metastático”, explica o oncologista Antonio Carlos Buzaid (foto), Diretor Médico Geral do Centro Oncológico da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
Referência: Structure and Distribution of an Unrecognized Interstitium in Human Tissues - Petros C. Benias, Rebecca G. Wells, Bridget Sackey-Aboagye, Heather Klavan, Jason Reidy, Darren Buonocore, Markus Miranda, Susan Kornacki, Michael Wayne, David L. Carr-Locke & Neil D. Theise - Scientific Reports volume 8, Article number: 4947(2018) - doi:10.1038/s41598-018-23062-6 - Published online: 27 March 2018